Publicado em:6 de março de 2017

Nova entrevista de Kristen para The Sunday Times


“Kristen Stewart talvez seja a melhor atriz de cinema abaixo dos 30 anos.” Eu escrevi isso ano passado, após uma entrevista com seu co-star em Twilight e antigo namorado, Robert Pattinson – e esse ano, eu estou totalmente convencido de que estou certo. Mas acontece que os fãs da saga de vampiros continuam fiéis, e algumas devotas de Pattinson, após o término do casal, não são afetuosos com sua ex. As menções na minha rede social estavam cheias de fúria por um mês. “Porque discordam de você?” Stewart ri, quando eu conto sobre isso tudo. “Estavam tipo, ‘Foda-se ela?'” Exatamente.

Se você só viu a atriz lastimar sua adolescência através da Saga Crepúsculo, você pode ficar com raiva da afirmação acima. Siga para seu trabalho mais recente e você irá descobrir uma atriz de 26 anos de idade que se desenvolveu em uma presença tão confiante, que agora ela é uma estrela da arte, especialmente na Europa: a primeira atriz americana a ganhar um César, o equivalente francês ao Oscar. Outro preconceito é que ela é completamente cínica e hostil a inquéritos da imprensa após a reduzirem para um relacionamento com um diretor casado. Sua imagem é com olhos marcantes, legal, distante e tão figurativa que uma crítica sobre sua recente aparição no Saturday Night Live a chamou de “surpreendentemente encantadora.”

Ela entende o motivo? “Cem por cento.” (Essa é uma afirmação que ela usa muito.) Na verdade, Stewart é tão simpática quanto Tom Hanks, um ator que todos dizem ser o melhor para se entrevistar na indústria. Em seu braço direito está uma tatuagem com a lâmpada no topo de Guernica, de Picasso, feita para lembrar a ela que podemos superar a escuridão se ligarmos o interruptor. Ela parece estar com um brilho natural por esses dias, e é na maioria graças a suas conquistas profissionais.

“Estou com os pés muitos fortes agora,” ela diz, com sua fala normalmente rápida, orgulhosa de seus papéis independentes que a colocaram de volta onde ela começou, e pertence.

Primeiro veio Clouds of Sils Maria, em 2014, onde Stewart mais do que se manteve de pé contra a vencedora do Oscar, Juliette Binoche, em uma história mais ou menos de mão dupla sobre o relacionamento desafiante de uma jovem mulher com sua chefe mais velha, uma atriz sensível. Nesse mesmo ano, com uma suavidade temperamental, ela interpretou a filha de Julianne Moore no drama Still Alice. Em seguida, houve um papel pequeno como uma jovem advogada lutando com dificuldades para alcançar coisas melhores em Certain Women, de Kelly Reichardt, um desses filmes que começam com sexo triste e nunca animam.

O melhor de todos é Personal Shopper, o segundo filme que ela fez com o diretora francês Olivier Assayas, após Clouds of Sils Maria, e seu primeiro papel principal em anos. É difícil de descrever. No básico, Personal Shopper é uma história de fantasmas para adulto obscuramente legal sobre uma mulher que pega emprestado várias roupas de alta moda para sua chefe celebridade – Os Outros encontra O Diabo Veste Prada. Stewart passa muito tempo em uma casa assombrada dizendo “Lewis” várias vezes. Lewis é seu recentemente falecido irmão gêmeo, e ela está esperando pela manifestação de seu espírito em Paris. Os dois são mediums. Para enfrentar a tensão dessa vida dupla, a Maureen de Stewart fuma muito e corre pela cidade em uma moto, parecendo muito legal. Ela recebe mensagens de texto anônimas que dizem coisas como “Eu conheço você”, o que é bastante perturbador, especialmente quando você está procurando por seu irmão morto.

Como, eu pergunto, o filme pode ser descrito em uma frase no estilo de Hollywood? Stewart ri e, totalmente plausível, diz que ela não gosta de brevidade. Ela quase não para de falar durante a entrevista. “É sobre uma garota que descobre que ela é uma estrangeira, em todos os sentidos da palavra, não só geograficamente, mas na vida. Ela passou por esse evento traumático, e isso começa uma crise existencial, onde ela questiona se tudo é real. Ela se sente completamente sozinha.”

Espera. Ela ainda está falando de Personal Shopper, ou Crepúsculo? Especialmente sobre sua experiência pessoal de fazer essa jogada, que trouxe quase $3.4 bilhões na bilheteria mundial e tomou conta de sua vida por cinco filmes. Não, ela diz, ela não está falando sobre o último. “Eu realmente nunca me senti atolada por Twilight,” ela começa e, ao invés de deixar assim, continua mastigando, empilhando frase após frase.

“Cada passo transforma você na pessoa que você é, e sim, [Crepúsculo] me moldou enormemente. Não apenas os filmes, mas o efeito subsequente. Fez o meu envolvimento em Sils Maria mais interessante, com certeza – de uma forma irônica e pessoal.” Você quer dizer a fala onde sua personagem diz, “É notícia de celebridade. É divertido”? Ou quando ela tira sarro de um filme de estúdio por ter lobisomens, assim como em Crepúsculo. “Cem por cento,” ela responde. “Essas falas na boca de outra pessoa teria sido interessante, mas não tipo, ‘Whoa. Ela realmente sabe do que está falando!'”

Alguns financiadores do filme ficaram surpresos, diz Assayas, quando ele escolheu trabalhar com essa ídolo adolescente da Califórnia. Mas ele dá ênfase para sua coragem, ao filmar em Dolomites, onde “não é divertido após o pôr do sol”, longe de casa, rodeada por uma equipe estrangeira.

A arte da Europa poderia ser vista como o próprio quarto do pânico de Stewart, o título do seu primeiro filme de sucesso quando tinha 11 anos, com Jodie Foster. Fornece a ela um refúgio. Assayas concorda que ela pareceu aliviada de estar em um filme assim; e então ele a coloca do lado dos grandes. “Eu compararia Kristen à Harriet Andersson,” ele diz sobre uma das favoritas (e mais legais) atrizes de Ingmar Bergman. “Não há outro elogio maior.”

Na tela, ela tem um estilo marcante porém vulnerável, com a cabeça baixa e murmúrios baixos. Em Personal Shopper, isso é aplicado em uma extensão tão cativante que, quando ela diz a fala louca “Ela vomitou esse ectoplasma,” você concorda, ao invés de cair na risada. Ela é, simplesmente, uma atriz que não gosta de se mostrar. Foster arrasou quando disse: “Kristen não está interessada em deixar escapar suas emoções em sua frente.” Então esse renascimento de carreira no território do cinema europeu faz todo sentido.

“Eu estou acostumada com pessoas recebendo prêmios por performances extremas,” ela diz sobre sua vitória surpreendente no César por Sils Maria. “Nos Estados Unidos, é raro as pessoas conseguirem atenção crítica por coisas que são tão quietas. Algumas vezes, você não mostra o que está sentindo, e na verdade fala mais alto do que empurrar isso pela garganta de alguém.”

Apesar disso, seu próximo projeto obviamente não é arte: Underwater, um filme que parece colocar Armageddon de Michael Bay no oceano. É algo estranho para ela, talvez, mas ela compara a profundidade da história a Interstellar, de Christopher Nolan, e insiste que não será um filme que “para com o conceito, então você pensa, ‘Que legal, esse foi um ótimo conceito.'” Talvez algo nessa escala seja o único passo lógico para ela. Essa é uma atriz, apesar de tudo, que foi para o meio do nada em uma montanha com uma equipe de estrangeiros, logo após ser mimada por uma das maiores franquias dos últimos tempos. Ela quer surpreender.

“Eu quero me pressionar,” ela diz. “Na minha vida, quando estou emocionada com algo, eu sou uma pessoa extrema. Sutileza não é do meu feitio. Eu não gosto de fingir nada, mas as melhores oportunidades para mim são quando eu estou um pouco amedrontada.”

Sua recente performance no SNL contou com um esquete inspirado no filme francês Azul é a Cor Mais Quente, onde ela brinca em uma cozinha com outra mulher. Mais cedo no programa, ela tinha irradiado quando disse para os milhões de telespectadores que era “muito gay.” Ela saiu do armário no último verão, e a jovem estrela que estremeceu com metade da última década com a saga de vampiros Crepúsculo, cada vez mais fechada, pareceu uma nova mulher – uma pintura finalizada ao invés de uma em progresso.

“Eu não estava escondendo nada,” ela diz, quando questionada sobre por qual motivo agora ela é aberta sobre sua vida pessoal enquanto ao namorar Pattinson, ela ficou calada. “Eu não falava sobre meus primeiros relacionamentos porque queria que as minhas coisas fossem só minhas. Eu odiava que detalhes da minha vida estavam se tornando uma comodidade e estavam sendo espalhados pelo mundo. Mas considerando que tenho tantos olhos em mim, eu percebi que minha vida pessoal afeta um número maior de pessoas do que só a mim. Foi uma oportunidade para render um pouco do que era meu, para fazer até uma outra pessoa se sentir bem sobre si mesma.”

“Se não fosse um tópico relevante,” ela continua, seu tom equilibrado e apaixonado, mantendo um fluxo melódico, “como algo que precisasse de atenção, eu manteria minha vida privada para sempre. Mas então, eu não posso sair de mãos dadas com alguém, já que estou sendo seguida em todo lugar. Quando eu estava namorando o Rob, o público era o inimigo – e assim não era jeito de viver. Não era essa grande declaração, ‘Eu estava muito confusa! Agora sei quem eu sou!’ Eu não passei por nenhuma dificuldade.”

Ela ri. “Parecia importante, e no tópico.” Seria difícil nomear uma entrevistada mais confiante.

Em janeiro, ela exibiu sua estreia como diretora, Come Swim, um estranho curta de 17 minutos que chegou com uma pesquisa com o título de Trazendo Impressionismo para a Vida com Transferência de Estilo Neural. Você não consegue isso com Crepúsculo. Enquanto seu futuro vai ser dos dois lados da câmera, ela também quer ir para os palcos algum dia.

Foi a “energia humana” da platéia do Saturday Night Live que a convenceu de que ela poderia se dar bem com performance ao vivo. Outro atrativo é que o teatro é o maior desafio para uma nativa de Los Angeles nascida em família atuante na indústria e criada no negócio da cidade: o próximo grande teste. Ela tem lido Sam Shepard e ama o jeito que o cenário pode ser subentendido, ao invés de estar lá para todos verem. O que, de fato, descreve de forma nítida sua atuação. Imagine-a em uma peça de Pinter.

Ela não é nada do que eu esperava, que era que haveria períodos de silêncio e perguntas sem resposta. Ela é amiga de Patti Smith e foi chamada de versão feminina de James Dean pela atriz/roqueira Juliette Lewis. Esse tipo de apoio e reconhecimento é intimidante. Ainda assim, ela é amigável, honesta, humilde e, talvez o mais impressionante, muito educada, especialmente após Crepúsculo, apesar da bílis contínua cuspida nela por fãs que pensam, de vários modos, que ela era errada.

“Eu não vejo o estouro de Crepúsculo como uma coisa traumatizante,” ela diz, delicadamente. “Teria que ser alguém com uma quantidade doentia de ego para ficar triste porque não é amada por todos. Seria bobo dizer que eu não ligo para o que pensam do meu trabalho ou de mim, mas as coisas são polarizadas, ponto final.”

De volta para aquela parte de ser “surpreendentemente encantadora”. Ela sabe o motivo pelo qual as pessoas pensaram que ela era distante? “Eu teria definitivamente perdido a cabeça,” ela responde. “Eu costumava tentar muito, porque eu ficava nervosa. Eu me sentia desconfortável ao me dirigir ao público. Eu apenas superei isso.”


Sobre seus fãs: “Sim, é muito legal. É uma viagem. É incrível. Eu acho que a minha fã base cresceu um pouco comigo também. Talvez eles gostassem disso quando tinham 15 ou 16 anos, ou 20, tanto faz, mas eu ainda consigo ver alguns rostos nas premieres e eles estão mais velhos e envolvidos nesse novo trabalho que é obviamente muito diferente de Crepúsculo e isso me deixa muito feliz.”




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