Publicado em:23 de janeiro de 2017

Kristen e Mike Pruss falam sobre Come Swim ao Screendaily

Durante o Sundance Film Festival, Kristen conversou com o Screendaily ao lado do produtor Mike Pruss sobre Come Swim, seu primeiro projeto como diretora.


Como você está se sentindo com a estreia?

KS: Eu me sinto com muita sorte de que tantas pessoas irão ver em uma tela grande e, mais importante, ouvir, porque isso é uma grande parte do filme e a vibração move por você, é palpável e te faz sentir um pouco enjoado e isso aumenta a ansiedade e deixa ainda mais satisfatório. Eu tenho cinco exibições. Muito legal. Só isso me deixa muito feliz. Nós jogamos as vozes por todo o lugar e isso reflete o interior de um cérebro disperso e parece que você está sendo atacado por memórias. Parece que as vozes estão vindo de todos ao seu redor.

Aquela sequência de ondas no começo é muito poderosa e parece super real. Você usou efeitos?

KS: É incrivelmente real. Eu escrevi [o personagem] secando e eu senti que só funcionaria se você visse essas miragens abundantemente hidratadas que ele está tentando absorver, mas não consegue. Meus esboços sequenciais eram ridiculamente ambiciosos e minha equipe de produção nunca me permitiu diminuir a ideia original. Nós entramos em contato com um fotógrafo subaquático que vive em Sydney e ele possui essa câmera que filma 1000 quadros por segundo. Você diminui o tempo para um ponto onde você sente como é estar em depressão: você está “empoeirado” pelo tempo e essa onda está crescendo e crescendo e nunca se quebra. Se fosse digital seria cafona. Nós peneiramos horas e horas para achar aqueles poucos segundos. Você pode filmar nessa câmera por 30 segundos e acaba sendo três horas de filmagem.

O que te deu a ideia para a história?

KS: Começou de uma forma muito ambígua. Eu estava obcecada com a ideia de um homem sentado do chão do oceano, o contentamento disso, o isolamento e o quão escuro isso é porque em um certo tempo isso pareceu muito interessante para mim. Você não pode a luz a não ser que você abra seus olhos, e é sobre se permitir ver porque sempre está lá.

É um filme completamente sobre coração partido. Eu definitivamente não estou me afastando do que me fez desejar capturar essas imagens. É o primeiro amor. Você tem essa força que te permite continuar e então de repente isso se quebra e você pensa, “Como eu vou viver agora?” Você se ataca com memórias e imagens de cada ângulo de como poderia ter sido diferente, o que eu poderia ter dito e o que ele poderia ter dito e havia essa outra pessoa, e então você se afasta e percebe que nem tudo foi ruim. É porque isso que quando você escuta as mesmas falas reaproveitadas pela segunda vez [em Come Swim], elas são prazerosas, não são completamente ruins. Dependendo da perspectiva, você pode se matar se avaliando demais.

Isso foi uma resposta para algum relacionamento em particular?

KS: Eu tive quatro relacionamentos incrivelmente públicos. É sobre todos eles. Eu estive pensando nisso por cinco anos ou mais e tudo o que eu passei com o amor. Essas são situações instigantes que podem começar sobre um relacionamento e há certas experiências traumáticas que podem te levar a experiências existenciais. Eu tenho que lutar com o fato de que estou vivendo todos os dias e tenho que tentar me manter viva. Eu estou sozinha, todos nós estamos, e eu realmente queria transmitir que isso é normal.

Você pode engrandecer a sua própria dor e pensar que está sozinho e que ninguém entende, mas no final do dia há algo muito confortante em pensar que estamos todos sozinhos… Antes de você ir dormir, naqueles últimos dois segundos, há algumas perguntas que você não pode responder e você tem que seguir com elas. É importante meditar nesses assuntos porque ao mesmo tempo você não pode cair nisso. É sobre abandonar o controle e perceber que você precisa ser parte da vida para aproveitá-la… Você não pode escrever a história da sua vida. Seria legal, mas não é assim que se vive.

MP: Quando você relembra um relacionamento, as lembranças nunca são lineares, e isso te acerta como memórias em cacos. Realmente as coisas pequenas no presente podem desencadear memórias muito esmagadoras e o filme fala sobre como você pode fazer sentido essas coisas esmagadoras que aconteceram e como você segue em frente e acha a solução. Todos nós [no projeto] estávamos olhando para a jornada de dissolução para contentamento.

KS: Sim, é sobre se permitir ficar pesado por algo. Essa coisa toda passa. Se você luta contra a água, você vai se cansar e afundar.

MP: É esse paradoxo estranho de o que você mais precisa pode te matar e esse foi o motivo que falamos muito no processo principal. Há esse paradoxo central no amor: você está procurando fazer parte de algo e isso pode te destruir. E é sobre abraçar os aspectos desconhecidos da vida e perceber que você não pode desenhar uma linha embaixo de tudo.

Quando a ideia de fazer o filme veio até você?

KS: Alguns anos atrás eu realmente queria fazê-lo e eu tinha essa imagem do cara no chão e ele estava com muita, muita sede e não conseguia absorver a hidratação. Eu li todos os meus poemas dos últimos cinco anos e eu vi que escrevi a mesma coisa várias vezes. Eu tinha que utilizar isso para que eu pudesse escrever sobre outra coisa. Mike e eu estávamos em Singapura fazendo Equals e eu escrevi tudo em um caderno e mandei para ele. Eu queria fazer filmes desde que eu tinha dez anos e idade. Mas você tem que ter algo a dizer. É incrivelmente pessoal, mas também algo muito simples. É totalmente problema de gente branca de primeiro mundo; falar sobre o quão triste você pode ficar e o quão esmagador isso é.

MP: Há uma universalidade nisso. Nós todos já estivemos sozinho, nós todos nos sentimos depressivos e sentimos o caos de relacionamentos na vida e todos passamos por isso.

Escrever é um processo muito interior, então como foi dirigir?

KS: Foi uma viagem porque quando algo vale a pena e realmente vive, tanto como atriz e diretora, eu sinto que quando algo é coeso e se junta, isso é um milagre. Eu fiz muitos filmes ruins mas… o orgulho não é sobre criar algo que você pode estampar seu nome como atriz ou diretora, é mais sobre o espanto de uma ocorrência e sobre estar envolvido em uma ocorrência. Uau, essa ideia passou por todos nós e acabou sendo esse filme. Eu sinto isso como atriz também.

Você divide as responsabilidades e parece que você está segurando uma tigela com água: uma tigela rasa e muito pesada e então a linha de chegada é longe e todos precisam colocar a mão por baixo da tigela e se certificar que não entorne, e no final fica muito mais leve porque todos estão com a mão por baixo. Como atriz e diretora, eu sinto isso. Eu comecei tudo, mas assim que estamos caminhando todos precisam colocar as mãos por baixo da tigela. Você não pode fazer isso sozinho. Esse processo todo é em conjunto.

Você gostou?

KS: Eu me diverti muito. Estava muito feliz. Quando as coisas funcionavam e tudo corria bem, eu parecia uma louca, meu olhos pareciam de louca. Era muito satisfatório. Eu estava com um pé na frente do outro. Você não pode pensar como um todo porque isso te desanima. Eu não sou muito orientada pelo resultado, de verdade, é sobre a experiência, essa coisa compulsiva. Você não pode pensar na parede completa; você tem que pensar em cada tijolo, então quando você percebe, você já construiu a parede.

Como foi a organização?

MP: Nós tivemos um ótimo relacionamento em Equals, e Kristen trabalhou com o filho do Ridley [Scott], Jake, em Welcome to the Riley alguns anos atrás, então foi uma continuação e colaboração natural. Foi como ajudar um amigo. Nosso parceiro no filme, Dave Shapiro, da Starlight Studios, conseguiu o Refinery 29 para o financiamento. Nós na Scott Free olhamos para a Kristen como família. Uma das primeiras coisas que Ridley fez quando mostramos o filme para ele foi mandar uma mensagem para ela dizendo que é fantástico e que ela era como família.

KS: Ele disse que era cinema confiante. Eu estava literalmente pulando pelo meu quarto.

MP: Nós tivemos uma ótima equipe. Tivemos o cinematográfico John Guleserian e eu apresentei Kristen para um amigo que é um editor, chamado Jacob Secher Schulsinger, que trabalhou para Lars von Trier e editou Take Me to the River. Eu sabia que eles iam se conectar, por isso os coloquei juntos.

KS: Eu me curvo para o Jacob. Ele é um artista.

Como colaboradores, vocês compartilham uma grande energia.

MP: No nosso tempo livre, nós dois gostamos de ler muito e falávamos sobre coisas que tínhamos lido e que nos inspiraram e como vimos o mundo. Nossa amizade desenvolveu naturalmente. Nós temos um bom ritmo juntos e isso faz parte da produção, às vezes.

KS: Há alguns produtores que vão conseguir que o filme seja feito e há pessoas como o Pruss, que eu sinto o motivo pelo qual estão fazendo isso. Alguns produtores são só sobre o dinheiro e tudo bem. Mas você olha para a história do Mike e ele começou na Focus Features trazendo chá para as pessoas. Eu amo gente assim. Ele subiu de nível e está fazendo coisas incríveis. Ele e Charles Gillibert são meus meninos.

Você vai dirigir mais?

KS: Eu quero transformar isso em um longa. Estamos olhando. Eu vou fazer um filme, mas quero fazer mais alguns curtas. Eu amo atuar e eu não vejo muita diferença. Eu posso trabalhar para as pessoas em milhões de assuntos diferentes, mas quando a coisa é sua, precisa sair naturalmente. Foi assim com esse. O primeiro corte tinha 40 minutos. Eu poderia expandir para 120 minutos em um segundo.

E quem é Josh, o único ator em Come Swim?


KS: Ele é só meu amigo Josh que literalmente nunca fez nada. Eu queria muito interpretar esse papel e me identifiquei com ele. Eu sinto que poderíamos ser parentes, então foi perfeito. Se não fosse eu, fiquei feliz que pôde ser ele.




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