Life é o quinto longa de ficção do holandês Anton Corbijn, de 61 anos.
Ele é um fotógrafo com muitas e extensas ligações com o pop rock, já
tendo feito clips, exposições ou livros sobre os artistas Tom Waits, The
Rolling Stones, Depeche Mode, U2, Metallica, entre outros. Esse perfil
torna o novo longa dele particularmente singular, já que o diretor volta
as câmeras para os dramas humanos de quem não se enquadra nas dúbias
glórias que o mundo da indústria cultural oferece. É um filme que mantém
distância, inclusive visual, da ostentação que o mundo pop gosta de
exibir, à medida que propõe intimismo, dramaticidade contida, fotografia
elegante, provocativamente quase antiestética, e linguagem algo
convencional.
A história escrita por Luke Davis é quase banal. Coloca na tela a
amizade de Denis Stock (1928-2010), vivido por Robert Pattinson, um
fotojornalista da revista Life com ambições artísticas, com James Dean
(1931-1955), ator respeitado em ascensão em Holywood, interpretado por
Dane DeHaan. Personagens e contexto são apresentados de forma rarefeita e
sintética, com diálogos quase minimalistas, sem preocupação de
localizar demais, temporalmente, o que se vê – tudo se passa em um vago
“anos 1950”.
Stock tem de cuidar da sobrevivência e vive fotografando, entediado,
poses ensaiadas de estrelas de cinema. Dean luta para atuar em filmes em
que acredita e que deem vazão à sua fome de verdade artística, mas com
declarado enfado pelas condutas da indústria cinematográfica. A revista
Life, que o título do filme evoca, é, no final dos anos 1950, a
publicação que revoluciona o jornalismo ao abrir amplos espaços para a
fotografia, um espetáculo na vida e ídolos norte americanos. Stock vê em
Dean tema de ensaio que abra as portas das galerias de arte para ele, e
aposta nas diferenças do ator com o star system.
O personagem vê no ator, inclusive, sinal de algo novo que está surgindo
na Nova York dos anos 1950. O filme não diz, mas vale lembrar que nova coisa é também o nome do free jazz, então nascente, ícone de extensa
experimentação artística, movido por mal-estar com a sociedade
industrial, que, embebida em filosofia existencialista, vai renovar a
dança, o teatro, as artes plásticas e a poesia norte-americana.
Trabalhando com inteligência as diferenças entre a vida dos artistas e a
abordagem que a Life traz dela, sem retórica nem pedantismo, Anton
Corbijn, constrói um filme sobre muitos temas: publicidade, jornalismo,
arte, cinema, verdade etc. E especialmente sobre como a indústria
cultural manipula esses elementos para vender produto e padrões
discutíveis (de beleza, comportamento, felicidade, vida etc.). Fato que,
muitas vezes, traz dramas humanos enormes para quem busca inserir arte
no circuito mercantil da indústria, não se enquadra ou não gosta do jogo
criado com belezas fotogênicas, frases ensaiadas e fofoca. No filme, o
tema da arte ganha resposta pragmática: ela às vezes vence e muda as
regras do jogo, mas, muitas vezes, tomba levando à ruína, inclusive
existencial, artistas verdadeiros.
Pela complexidade do tema, mas também por prudência, Anton Corbijn deixa
claro que, no contexto da indústria cultural, ninguém é inocente. Mas
evita acusações ou explicações. Ao retratar um ator que revela a si
próprio quando interpreta, faz bonita reverência a todos os que têm
talento e lutam para fazer arte de verdade. Life tem sabor drummondiano,
no sentido que, com jeito nostálgico, pontua, de fato, ironia até
afetuosa, mas dilacerante corrosiva. Anton Corbijn, vale recordar,
volta à segunda vez ao tema dos descompassos entre arte e vida. É do
diretor o longa Control (2007), sobre Ian Curtis (1956-1980), um dos
criadores da banda Joy Division, rebatizada de New Order após a morte do
vocalista.
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