"Essa foi a tragédia. Não que um homem tenha a coragem de ser o mal, mas que muitos não têm a coragem de serem bons."
Uma
abertura, três acessos de raiva e uma coda*. Estamos de volta os restos
da velha Europa na estreia na direção de Brady Corbet, The Childhood of
a Leader. As grandes potências do mundo ocidental lutaram suas maiores
batalhas até à data, e em 1919, o Tratado de Versalhes está sendo
elaborado para dar aos vencedores direitos e aos perdedores concessões.
Quão misericordiosa essa nova ordem mundial euro-americana será, e como
os erros do passado e do presente vão influenciar o futuro estão postos
as claras na escala pessoal e continental no primeiro longa-metragem
realizado de Corbet.
Onde você pode ter ouvido sobre Brady Corbet
antes? Familiar para os fãs arthouse (filmes independentes) e cinema mundial em frente da
câmera como ator em filmes respeitados, como Mysterious Skin de Greg
Araki; Melancholia, de Lars Von Trier, e Funny Games de Michael Haneke,
Corbet tem trilhado o caminho de ator arthouse (independente) a bem mais
de uma década. O calibre de administração que ele tem trabalhado até
agora sugere que quando chegou o momento para ele mudar para de trás da
câmera,o público do cinema teria uma surpresa. Este nível de expectativa
é mais do que conhecemos neste tenso histórico, drama familiar.
Corbet montou um elenco que inclui o ator de Game Of Thrones, Liam
Cunningham; a atriz de O Artista, Bérénice Bejo; e a estrela de Twilight, o galã
que virou ator de filmes independentes, Robert Pattinson. Mas a
verdadeira estrela do filme de 116 minutos, é um menino de dez anos de
idade, Tom Sweet, que interpreta o precoce, manipulador, menino
andrógino Prescott. Sweet exala uma
persona excessivamente tímida, minutos depois de ter atirado pedras
contra os paroquianos locais que faziam um recital de Natal. Em suma,
não confio nesta criança. Um prenúncio sinistro de eventos que virão
mais tarde no filme. Esta é, afinal, a infância do líder, que estamos sendo
convidados a viajar através.
A cenografia é requintada. Os interiores de uma mansão francesa rural em
ruínas, e seus jardins circundantes, presos no outono e inverno para a
duração do filme, são lindamente apresentados na tela pelo diretor de
fotografia Lol Crawley. E é interessante notar que, embora este seja um
filme de época, completo com DJ, vestidos com babados e roupas infantis
quase vitorianas, a paisagem sonora que o acompanha é qualquer coisa,
mas graças ao gênio musical por trás dela: Scott Walker. Scott Walker - um
artista inspirado, que, nesta fase da sua carreira musical variada e em
constante evolução, faz contemporâneos como Tom Waits soar como um
artista pop despreocupado.
Há uma discordância inquietante para as
seções de cordas industriais que acompanham imagens de Corbet na tela.
Prescott salta em sua cama, no meio de um de seus acessos de raiva auto
impostas, e está perfeitamente sincronizado com o BMP das cordas de
acompanhamento de orquestração de Walker. O arquivo em preto e branco da
filmagem utilizadas na insinuação e coda* para o filme, não fazem uma
visualização confortável quando combinada uma seção de cordas sinistras
que parece está vindo de um filme de terror techno. Este casamento de
imagem e áudio é um acoplamento perfeito e todo o crédito é de Corbet
por trazer Walker para o projeto, que segundo ele disse após a projeção
do filme, no Q&A no Festival de Edimburgo, levou quatro ou cinco
anos para vir a ser concretizadas.
Com uma sequência de abertura de crédito que lembra de sua configuração
inter guerra, e uma cena de encerramento (com um toque que não será
revelado aqui) contendo cinematografia que se parece com um híbrido de
Sergei Eisenstein e Leni Riefenstahl, Corbet carimbou um estilo de
direção definido em seu primeiro longa-metragem. Quanto tempo ele
pretende manter este estilo de cinema continuar a ser visto - talvez
veremos mais dele, tanto atuar e dirigir de formas a la o canadense
Xavier Dolan? O que é certo na estreia do Festival Internacional de
Cinema de Edimburgo na premiere britânica de seu novo filme, é que
Corbet mais que provou o seu valor no meio do cinema arthouse com The
Childhood of a Leader, e é uma força de direção sólida para seguir nos
próximos anos.
*Coda: Se for relativo à música, 'coda' é a seção conclusiva de uma
composição (sinfonia, sonata etc.) que serve de arremate à peça.
Via
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