Publicado em:28 de março de 2015

Blog do Celo: Maps to the Stars é o tipo de filme que incendeia a tela



Coincidência ou não, é um atrativo a parte notar que o primeiro filme de David Cronenberg filmado nos EUA seja Mapa Para as Estrelas, afinal, o diretor sempre foi meio esnobado por Hollywood e sua academia de cinema. A coisa fica mais curiosa ainda ao contemplar um trabalho que não teme tocar – e desdenhar também – nas enfermidades de uma indústria capaz de “coisificar”, sem qualquer rodeio, a sua principal mão de obra: os atores. Logo Mapa Para as Estrelas ganha inevitáveis ares metalinguísticos, mas penso não ser essa a sua característica mais importante. 

O dialogo proposto por Cronenberg gira muito mais em torno do mundano. Usa o cinema para falar do cinema, mas duma forma muito menos glamorosa. Mapa Para as Estrelas achincalha estereótipos (sim, as estrelas também cagam, como numa determinada cena). E por esse caminho o filme tateia questões familiares, de teor universal, ao trazer o astro-mirim Benjie (Evan Bird). Sua família coloca tudo em segundo plano – até mesmo a própria sanidade mental – para que o garoto obtenha sucesso. É uma vida de aparências. E é uma vida complicada de lidar, principalmente para alguém tão imaturo. Benjie é a síntese de tantas jovens estrelas consumidas pelo seu meio. 

Assim como o ególatra Benjie é um símbolo pontual, alguém protegido ao ponto de não ter o mínimo discernimento de certo ou errado, a personagem de Julianne Moore é outro. Melhor, outro lado da mesma moeda de Mapa Para as Estrelas. A sua Havana Segrand é uma atriz veterana, reconhecida pelo talento, mas que ainda precisa implorar, ou mesmo fazer sexo, por um papel em algum filme. Fora dos padrões de beleza por não ser mais tão jovem, a mulher ainda é assombrada pelo fantasma da mãe morta num incêndio. Para Havana, o que não tem beleza é fétido. Ela mesma se acha fedorenta.

As histórias de Benjie e Havana se aproximam, mas não se cruzam, com a entrada da misteriosa – e marcada - Agatha (Mia Wasikowska), uma sociopata em potencial. E Cronenberg tangencia as frentes narrativas, desencaminhando cada uma delas como numa tragicomédia grega. O alinhamento cósmico é uma piada tal como o guru interpretado por John Cusack. E a ironia atravessa pela catarse de desenlaces absurdos (como esquecer Havana comemorando um papel conquistado?). Estranho, por vezes grotesco, Mapa Para Estrelas é o tipo de filme que incendeia a tela. Literalmente.




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