
O cineasta alemão Werner Herzog (documentário “A Caverna dos Sonhos
Esquecidos”) não filmava um longa de ficção desde 2009, quando lançou
“Vício Frenético”, tendo se dedicado a documentários desde então. Ele
volta ao comando de atores com a cinebiografia “A Rainha do Deserto”,
que disputa o Urso de Ouro no Festival de Berlim, retomando também as
características que deram notoriedade às suas obras.
Herzog adora usar cenários remotos para contar suas histórias, e sua
obsessão com o realismo costuma levar seus atores a situações extremas.
Pela segunda vez, ele filma no deserto, nesse caso em meio às areias do
Marrocos, depois de “Fata Morgana” (1971) ter sido rodado no deserto do
Saara.
“Havia algo de extraordinário nesse cenário e o deserto nunca tinha sido filmado assim antes. Chegamos a captar tempestades de areia”, declarou o diretor, na entrevista coletiva no festival.
“Havia algo de extraordinário nesse cenário e o deserto nunca tinha sido filmado assim antes. Chegamos a captar tempestades de areia”, declarou o diretor, na entrevista coletiva no festival.
Segundo o cineasta, os cenários naturais são importantes no seu
trabalho. “Sempre busco paisagens. Usei a selva, por exemplo, quando
filmei ‘Fitzcarraldo’, fazendo da paisagem algo íntimo, um lugar de
sonhos febris. No caso desse novo longa, o deserto é também uma paisagem
íntima, algo que está dentro do coração da protagonista.”
Foi importante para ele retratar um Oriente Médio diferente daquele que é
mostrado nos telejornais. “O que estamos vendo é um mundo demonizado e
difamado na mídia, recentemente. É claro que há razões para isso, mas
quis mostrar um outro lado desse território.”
Ao contrário de muitos atores que já filmaram com Herzog, a estrela da
produção, Nicole Kidman, diz ter adorado filmar nas locações extremas da
produção. “Werner não é um tipo de diretor que usa chroma key, ele
busca por cenários reais e sempre me senti atraída pelo deserto. Em uma
cena, eu e James Franco nos beijamos com aquela vasta paisagem ao fundo.
É primoroso, como atriz, ter a oportunidade de estar no lugar real em
que os personagens precisam estar.”
Kidman dá vida à aventureira Gertrude Bell, considerada a versão
feminina do militar T.E. Lawrence, o Lawrence da Arábia, eternizado na
interpretação de Peter O’Toole no épico de 1962, dirigido por David
Lean, e que em “Rainha do Deserto” é vivido pelo ator Robert Pattinson.
Bell serviu de intermediária entre o império britânico e as lideranças
tribais do Oriente Médio, ajudando a criar as dinastias Hachemitas que
formaram o Estado da Jordânia. Mas apesar desse lado político da
personagem, Herzog quis explorar mais a vida pessoal da personagem.
“Sua vida pessoal era muito mais fascinante que as complicações
políticas que a seguiram em seus últimos anos de vida”, declarou o
diretor, que também assina o roteiro. Nesse enfoque, o cineasta expõe os
casos que ela teve com Henry Cadogan (James Franco) e Charles
Doughty-Wylie (Damian Lewis).
Franco se surpreendeu com o fato de Herzog ter realizado um filme
romântico. “Foi divertido vê-lo tentando descobrir como filmar as cenas
românticas. É como ver um mestre tendo contato com algo pela primeira
vez”, declarou o ator.
O cineasta complementou, confidenciando que até ele se surpreendeu com
isso. “Nunca tinha filmado um romance. Foi a primeira vez que realizei
cenas eróticas na minha carreira. Deveria ter realizado esse tipo de
longa mais vezes e também outros filmes sobre mulheres. Sempre pensei
que eu era um diretor de homens e estou feliz que essa descoberta
finalmente tenha acontecido.”
Para essas cenas românticas, era imprescindível haver química entre os
atores. “Quando se escala um elenco, química é tudo”, declarou Herzog.
“Se a química não estiver funcionando, você se perde na história e se
perde também como diretor. Acho que foi muito fácil para Nicole se
conectar com outros dois grandes atores como Franco e Lewis.”
Kidman concordou, declarando que sempre busca por químicas, histórias e
cenários que a tirem da zona de conforto. “Estou num momento na minha
vida em que busco por histórias diferentes nos mais diversos países. Não
quero apenas sair da minha casa e dirigir até um estúdio. Por isso,
quando Werner disse que eu iria para o Marrocos e viveria com ele no
deserto, meu único questionamento foi se poderia levar minhas filhas, e
ele respondeu: ‘Sim, haverá uma tenda para elas’. Fiquei maravilhada em
ter estado lá e grata pela experiência inesquecível”, concluiu a
estrela.










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