A saga da Paris Filmes
Graças à trama vampiresca da série Crepúsculo, a empresa brasileira assumiu o topo do ranking nacional de distribuição cinematográfica.
Mais de um milhão de adolescentes se aglomeraram nas filas de 1.200 salas de cinema brasileiras, no dia 15 de novembro do ano passado, quando estreou Amanhecer – Parte 2. Para esses jovens, significava ver o episódio final da saga de vampiros românticos Crepúsculo, baseada nos best-sellers da americana Stephenie Meyer. Para a brasileira Paris Filmes, responsável pela distribuição da película no Brasil, representava um clímax em sua história. Com 9,5 milhões de ingressos vendidos em 2012, a trama vampiresca foi o segundo filme mais visto no País no ano passado, atrás apenas de Os Vingadores – The Avengers, distribuído pela Disney.
Com esse fenômeno de audiência, a Paris Filmes, sediada em uma casa
no bairro do Pacaembu, em São Paulo, se tornou a primeira empresa
nacional a figurar no topo do ranking de distribuidores para os cinemas
do Brasil. “É um grande feito superar os americanos”, diz Márcio
Fraccaroli, de 46 anos, que começou a trabalhar na Paris Filmes em 1985 e
hoje é seu principal acionista. O sucesso da empresa chama ainda mais a
atenção pelo fato de, há dois anos, ela ser apenas a sexta colocada,
atrás das mundialmente dominantes Paramount/Universal, Sony, Warner e
Fox, além da brasileira Zazen, distribuidora do fenômeno Tropa de Elite
2.
Os 28 milhões de ingressos vendidos pelos seus filmes
responderam por 18,8% do mercado nacional, que movimentou R$ 1,6 bilhão
em 2012. Muito disso pode ser creditado na conta de Crepúsculo.
Mas também ao tino comercial de Fraccaroli. “Cinco anos atrás, li os
livros que dariam origem à série cinematográfica, para saber se poderia
ser um bom negócio”, afirma Fraccaroli. “Não entendi nada, mas a minha
filha adorou.” Foi o suficiente para farejar o potencial de sucesso da
franquia, que era detida pela Lionsgate, distribuidora independente
americana parceira da Paris. As boas escolhas de Fraccaroli, no entanto,
se estendem além da saga dos vampiros.
Os outros 40 filmes distribuídos pela Paris, em 2012, atraíram
juntos mais de 18 milhões de audiência. Isso graças a um catálogo
composto tanto por películas premiadas, como O Artista – o vencedor do
último Oscar –, quanto por comédias populares nacionais, como Até Que a
Sorte nos Separe. “A Paris Filmes tem arrojo nos seus lançamentos”,
afirma Manoel Rangel, diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema.
“Ela entra decidida e aposta forte nos filmes.” A saga da distribuidora
começou com o imigrante romeno Sandi Adamiu, que criou a empresa nos
anos 1950. Por dominar o idioma francês, passou a distribuir os filmes
da tradicional produtora Pathé por aqui.
Nos anos 1980, sob o comando de Alexandre Adamiu, filho de Sandi, a
Paris especializou-se em filmes de ação, além de expandir a rede de
cinemas iniciada pelo pai, que chegou a ter 170 salas de exibição. Uma
nova virada no roteiro foi necessária no começo dos anos 2000. Foi nesse
momento que Fraccaroli passou de funcionário a patrão. A Paris ainda
dividia os seus negócios entre a distribuição e a exibição. Sandi
Adamiu, neto e homônimo do fundador, defendia o foco no segundo negócio.
Como principal executivo da empresa, Fraccaroli queria deixar essa
atividade e apostar tudo na distribuição.
“Na época, as exibidoras estrangeiras, como a Cinemark, começaram a
dominar o mercado”, diz Fraccaroli. O impasse foi resolvido com um
acordo em que o executivo assumia 70% do capital da empresa. A Paris
Filmes, agora, enfrentará um novo desafio: o de evitar a ressaca com o
fim da série Crepúsculo. A empresa tem em seu catálogo dois fortes
candidatos a sucessores do fenômeno jovem: Jogos Vorazes, que já teve um
primeiro filme de sucesso, e Dezesseis Luas, que estreia em março. Mas
Fraccaroli não pretende apostar tudo na queda de outro raio no mesmo
lugar.
A empresa começou a participar da produção de filmes nacionais, por
meio de uma área comandada pelo filho de Alexandre e homônimo do
fundador, Sandi. “É uma forma de controlarmos melhor a nossa safra de
produções”, diz Fraccaroli. A Paris passou, então, a participar desde a
elaboração do roteiro até o lançamento das obras. Com isso, dos cinco
filmes brasileiros mais vistos em 2012, quatro tiveram as impressões da
empresa em sua película. No momento, há 58 produções nacionais sendo
desenvolvidas na casa, no Pacaembu. Mais sucessos de bilheteria podem
sair de lá.
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