Falando de Cinema
Estrada em transe
Livro que definiu os ideais libertários de uma geração, On The Road chega às telas em versão de Walter Salles e mostra que o movimento beat ainda tem eco até a moda atual.
Em apenas três semanas, Jack Kerouac escreveu o livro que marcaria toda uma geração que, entediada pelo pós-guerra, estava à procura de um propósito para a vida. Lançado em 1957, seu On The Road finalmente chega ao cinema pelas lentes do brasileiro Walter Salles, depois de quase três décadas trocando de mãos. A história dos amigos que cruzam os Estados Unidos (de Nova York a São Francisco, passando por Denver) em busca de um sentido para sua existência logo se tornou um mito da chamada geração beat ao expor a liberdade sexual, o uso de drogas, o interesse pelas religiões orientais e pela vida nômade, tudo ao som de muito jazz – semeando a revolução cultural que se concretizaria na década seguinte.
Apesar das críticas negativas em Cannes, onde foi apresentado pela primeira vez no mês passado, o filme é intenso como a vida daqueles jovens. A atmosfera eletrizante e transgressora do sax de Charlie Parker, das pinceladas de Jackson Pollock e da própria narrativa improvisada e frenética de Kerouac é traduzida por cenas douradas e corpos suados (exalando sexo) embalados pelo bebop e os efeitos da benzedrina no café. “Os protagonistas viviam à flor da pele, à procura de diferentes formas de liberdade e vivenciando cada momento como se fosse o último. Assim, muitas cenas foram filmadas com jazz tocando no volume máximo e isso acabou entrando pelos poros dos atores. Como a câmera está colada aos corpos, existe um constante desejo de verter essa sensibilidade para o filme”, esclarece o diretor àVogue. Ao fim da sessão, é inevitável a impressão de ter saído de um transe. A estrada acabou e, junto com ela, a vida intensa e inconsequente. É hora de crescer, caros “hipsters destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa” – como Ginsberg define a própria geração no poema beat O Uivo.
Ícones do movimento
O poeta melancólico Allen Ginsberg (1926-1997) amava o bom-vivant Neal Cassady (1926-1968), que amava o escritor Jack Kerouac (1922-1969), mas vivia entre as camas de Carolyn e LuAnne. Todos adoravam café com benzedrina, sexo e jazz. Filhos de imigrantes, os personagens-ícone da geração beat fizeram de tudo pelas estradas americanas. Ginsberg conheceu o sucesso com o poema em prosa O Uivo, Kerouac transformou aquelas experiências em bíblia de uma geração, e Cassady seguiu viajando.
Descubra o bairro beat de São Francisco
O Diretor Walter Salles ensina a andar por North Beach
“São Francisco é o último reduto beat. O The Beat Museum (540 Broadway) é parada obrigatória para quem quer ouvir poesia de verdade. Todos os livros escritos por essa geração estão por lá, vários autografados pelos autores. Cruzando a rua fica a Jack Kerouac Alley, o bar onde toda essa turma se encontrava. Logo ao lado fica a livraria mais incrível dos Estados Unidos, a City Lights (261 Columbus Avenue), criada pelo poeta Lawrence Ferlinghetti. Nas parede, fotos que marcaram a vida boêmia da cidade e algumas das frases que definem o lugar, como ‘Read a fucking book!’.” No fim da jornada, tome um expresso no Caffè Trieste (601 Vallejo Street).
Moda
O look mendigo da garota beat virou habitué das passarelas: jeans e couro, camiseta podrinha, tricôs oversized e tecidos naturais. Pronta para cair na estrada, ela precisa de muitos bolsos e sapatos pesados. Sua bolsa é a hobo: mole e espaçosa, como a dos vagabundos que cruzam as EUA clandestinos em trens.
Estrada em transe
Livro que definiu os ideais libertários de uma geração, On The Road chega às telas em versão de Walter Salles e mostra que o movimento beat ainda tem eco até a moda atual.
Em apenas três semanas, Jack Kerouac escreveu o livro que marcaria toda uma geração que, entediada pelo pós-guerra, estava à procura de um propósito para a vida. Lançado em 1957, seu On The Road finalmente chega ao cinema pelas lentes do brasileiro Walter Salles, depois de quase três décadas trocando de mãos. A história dos amigos que cruzam os Estados Unidos (de Nova York a São Francisco, passando por Denver) em busca de um sentido para sua existência logo se tornou um mito da chamada geração beat ao expor a liberdade sexual, o uso de drogas, o interesse pelas religiões orientais e pela vida nômade, tudo ao som de muito jazz – semeando a revolução cultural que se concretizaria na década seguinte.
Apesar das críticas negativas em Cannes, onde foi apresentado pela primeira vez no mês passado, o filme é intenso como a vida daqueles jovens. A atmosfera eletrizante e transgressora do sax de Charlie Parker, das pinceladas de Jackson Pollock e da própria narrativa improvisada e frenética de Kerouac é traduzida por cenas douradas e corpos suados (exalando sexo) embalados pelo bebop e os efeitos da benzedrina no café. “Os protagonistas viviam à flor da pele, à procura de diferentes formas de liberdade e vivenciando cada momento como se fosse o último. Assim, muitas cenas foram filmadas com jazz tocando no volume máximo e isso acabou entrando pelos poros dos atores. Como a câmera está colada aos corpos, existe um constante desejo de verter essa sensibilidade para o filme”, esclarece o diretor àVogue. Ao fim da sessão, é inevitável a impressão de ter saído de um transe. A estrada acabou e, junto com ela, a vida intensa e inconsequente. É hora de crescer, caros “hipsters destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa” – como Ginsberg define a própria geração no poema beat O Uivo.
Ícones do movimento
O poeta melancólico Allen Ginsberg (1926-1997) amava o bom-vivant Neal Cassady (1926-1968), que amava o escritor Jack Kerouac (1922-1969), mas vivia entre as camas de Carolyn e LuAnne. Todos adoravam café com benzedrina, sexo e jazz. Filhos de imigrantes, os personagens-ícone da geração beat fizeram de tudo pelas estradas americanas. Ginsberg conheceu o sucesso com o poema em prosa O Uivo, Kerouac transformou aquelas experiências em bíblia de uma geração, e Cassady seguiu viajando.
Descubra o bairro beat de São Francisco
O Diretor Walter Salles ensina a andar por North Beach
“São Francisco é o último reduto beat. O The Beat Museum (540 Broadway) é parada obrigatória para quem quer ouvir poesia de verdade. Todos os livros escritos por essa geração estão por lá, vários autografados pelos autores. Cruzando a rua fica a Jack Kerouac Alley, o bar onde toda essa turma se encontrava. Logo ao lado fica a livraria mais incrível dos Estados Unidos, a City Lights (261 Columbus Avenue), criada pelo poeta Lawrence Ferlinghetti. Nas parede, fotos que marcaram a vida boêmia da cidade e algumas das frases que definem o lugar, como ‘Read a fucking book!’.” No fim da jornada, tome um expresso no Caffè Trieste (601 Vallejo Street).
Moda
O look mendigo da garota beat virou habitué das passarelas: jeans e couro, camiseta podrinha, tricôs oversized e tecidos naturais. Pronta para cair na estrada, ela precisa de muitos bolsos e sapatos pesados. Sua bolsa é a hobo: mole e espaçosa, como a dos vagabundos que cruzam as EUA clandestinos em trens.












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