'Millennium' e 'Jogos vorazes' aparecem como dois possíveis candidatos. As duas franquias também são baseadas em séries de livros 'best-seller'.
É natural, ou mesmo inevitável, que venha então a pergunta: quem ocupará os lugares agora vagos? A considerar a opinião de críticos ouvidos pelo G1, dois candidatos prováveis, ou possíveis, são uma jovem tatuada, cheia de piercings e andrógina e uma adolescente que vive num mundo pós-apocalíptico. A primeira é hábil na informática, e a segunda, nas lutas físicas. Podem ser elas os principais novos “rostos” a surgir no cinema comercial em 2012.
A especulação parte de características elementares de “Millennium – Os homens que não amavam as mulheres”, que estreia por aqui em janeiro – lá fora, entrou em cartaz em dezembro –, e “Jogos vorazes”, previsto para março. São atributos que, não coincidentemente, compartilham com a cinessérie “Harry Potter” e com a “Saga Crepúsculo”. Começa pelo fato de ambos também derivarem de livros que frequentam listas de best-sellers no mundo todo. Mas não é à toa que previsões levam esse nome.
“Toda franquia precisa ser testada, até ‘O senhor dos anéis’. Ninguém sabia qual seria a extensão do sucesso dele”, argumenta Pedro Butcher, editor do portal Filme B, especializado em análise do mercado cinematográfico. “A franquia é aquela marca que dá a certeza de uma penetração mínima, mas o resultado você só vai saber de verdade quando o filme estrear”, prossegue. Para ilustrar a teoria, ele cita um caso: “Percy Jackson”, que chegou a ser apontado como provável “substituto de ‘Harry Potter’” – não passou nem perto.
Mas, por trás das semelhanças aparentes, e verdadeiras, entre “Potter”, “Crepúsculo”, “Millennium” e “Jogos vorazes”, existe uma diferença básica: “Millennium”, por exemplo, é considerado uma espécie de “Harry Potter para adultos”. Trata-se de uma trilogia detetivesca de mistério e crime passada na Suécia. Lá, um repórter persistente associa-se a uma hacker de visual e comportamento incomuns. Juntos, partem a resolver uma trama que aproveita para falar de poder, política, manipulações na mídia e violência sexual.
Some-se a isso o fato de o diretor ser David Fincher – de “A rede social” e “Clube da luta” – e então teríamos um indício de que o cinema blockbuster de 2012 terá traços mais “adultos” que o de 2011? Não necessariamente, acredita o crítico Marcelo Janot. “O problema são os filmes pensados para essa nova geração, eles não têm a menor preocupação de ter um verniz intelectual.”
Para provar o argumento, Janot traz à tona, novamente, o termo “série”: “Boa parte do que se faz em Hollywood é franquia. Toda hora a gente vê alguma continuação, faltam realmente criatividade e bons roteiros. Isso é um problema antigo, mas vem se acentuando”.
Em seguida, ele fala de um formato usual nas superproduções atuais – o andamento veloz, que faz lembrar a linguagem de videoclipes. “Essa montagem ‘taquicárdica’, que alguns críticos gostam de usar como elogio, nem sempre é uma coisa boa. Às vezes, pode ser um sintoma de você querer simplesmente disfarçar uma ausência de conteúdo e profundidade. ‘A rede social’ é um filme bastante ágil, mas que me entediou profundamente, é bastante verborrágico, fala-se muito.”
Sem ‘rival’
Escrito por Suzanne Collins, “Jogos vorazes” propõe uma junção de mitologia, ficção científica e reality show. Tudo se passa num futuro em que, no lugar onde costumava haver os EUA, existe agora uma nação chamada Panem. Ali, acontece um torneio do qual, todos os anos, são convocados a participar 24 adolescentes, com idade entre 12 e 18 anos – ganha quem restar vivo, e tudo é transmitido pela televisão.
A protagonista é uma garota com amplo conhecimento em caçadas. O livro foi lançado nos EUA em 2008 e chegou ao Brasil em 2010. Existem duas sequências – “A esperança” e “Em chamas”. De acordo com a editora nacional, foram vendidos ao todo 5 milhões de exemplares apenas nos EUA, com direito a 160 semanas consecutivas de presença na lista dos mais vendidos feita pelo jornal “New York Times”.
O repórter e crítico Carlos Heli de Almeida acha “muito difícil” que tenhamos algo que “rivalize com Harry Potter”. “Os filmes atingiram um público mais específico, que eram amantes da série de livros. E tem uma limitação, não abrange uma faixa etária muito ampla: iria até 20 anos, no máximo.” Ele recorre ao elemento “faixa etária” porque este é um dado levado em conta em toda e qualquer avaliação sobre o setor, já que a maior parcela dos frequentadores dos cinemas tem entre 15 e 25 anos, em média. Se por um lado há sempre mais filmes “adultos” sendo lançados, por outro são as produções “adolescentes” que respondem pela maior fatia das bilheterias.
Não por acaso, “Amanhecer – Parte 1”, ainda em cartaz, detém a marca de filme mais visto no Brasil em 2011, com 6,38 milhões de ingressos vendidos, de acordo com o Filme B. “Harry Potter e as relíquias da morte – Parte 2” aparece em terceiro (5,55 milhões), atrás da animação “Rio” (6,36 milhões). “A faixa dos jovens continua sendo a mais rentável em qualquer gênero, não é de agora. Vai ser sempre assim, enquanto existir jovem, existirão filmes que serão próximos ao universo deles, à imaginação deles”, considera Almeida. “Agora, alguma coisa que tenha o mesmo impacto de ‘Harry Potter’, que cobriu dez anos dentro desse universo de fantasia e aventura, acho que ‘O Hobbit’, talvez. Mas é uma coisa tão mais intelectual, geek...”
Espécie de derivativo de “O senhor dos aneis”, “O Hobbit”, que também será franquia, tem previsão de estrear seu capítulo inicial somente ao final de 2012. De maneira que as apostas de “novidades”, se o assunto é cinessérie, seguem indo na direção de “Os homens que não amavam as mulheres” e “Jogos vorazes”. E eles, ao menos em um sentido, largam na frente de “Harry Potter” e “Crepúsculo”: embora novatas, suas estrelas têm mais créditos que o bruxo Daniel Radcliffe e o vampiro Robert Pattinson.
Contracenando em "Millennium" com Daniel Craig, Rooney Mara, de 26 anos, é cotada a uma indicação no próximo Oscar pelo papel da hacker – concorre, inclusive, ao Globo de Ouro de melhor atriz dramática. Já Jennifer Lawrence, de 21 anos, que faz a adolescente em “Jogos...”, teve desempenho bastante elogiado em “Inverno da alma” e concorreu a uma estatueta em 2011.
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