Publicado em:15 de agosto de 2012

Cinquenta Tons de Cinza é uma versão apimentada de Crepúsculo

 
A top Carol Trentini é uma das famosas que se renderam à trilogia "Cinquenta Tons de Cinza", de E L James

Maior fenômeno editorial de todos os tempos, a trilogia Cinquenta Tons de Cinza já conquistou fãs famosas como Victoria Beckham, que já se assumiu fã dos livros de Erika Leonard, e Carol Trentini, flagrada com um exemplar em mãos durante sua recente viagem ao México. Na edição de agosto da Vogue Brasil, Daniela Falcão, diretora de redação, investiga o sucesso dos lançamentos, uma versão com bem mais sexo do hit adolescente Crepúsculo, leia a seguir.

Nova Cinderela (e milionária) da literatura mundial, a inglesa Erika Leonard deveria dividir parte das luvas que arrecadou com a tradução de sua trilogia Fitfy Shades of Grey para 41 idiomas com Stephenie Meyer, a autora de outra trilogia blockbuster, Crepúsculo. A essa altura você já deve saber, a pacata produtora de TV e mãe de família tirou a sorte grande na loteria das letras ao publicar despretensiosamente, como hobbie, versões alternativas das desventuras melosas de Bella Swan e Edward Cullen em um site onde fãs da série vampiresca de maior sucesso desde que o drácula saiu da Transilvânia continuavam imaginando para onde caminhava o romance cheio de tropeços (literais e figurativos) da estabanada mocinha do Arizona com o vampiro vegetariano mais bonzinho do planeta.

Depois de botar as crianças para dormir e deixar o marido sozinho na cama, Erika, que agora é tratada por E L James, seu pseudônimo “literário”, passava horas no teclado reescrevendo a trama criada por Stephenie, tentando escapar do tédio de sua própria existência de suburban housewife. Nunca imaginaria que bem longe dali, uma esperta e desconhecida editora australiana estava de olho nos posts entusiasmados que eram publicados sempre que Erika requentava on-line um novo capítulo de Crepúsculo. O resto da história está em todos os jornais e revistas semanais do planeta: ao apimentar a história dos vampiros transformando Edward Cullen em Cristopher Grey, um jovem bilionário cheio de neuroses emocionais e fã de sexo sadomasoquista (mas com coração de manteiga), Erika turbinou o romance adolescente com boas doses de sexo, ampliando a audiência de Stephenie Meyer para todo um rol de mães entediadas como ela, mas que não tiveram interesse em abrir as primeiras páginas de Crepúsculo e cia.
 
Erika Leonard, autora do maior fenômeno editorial de todos os tempos, chamou a atenção de uma editora ao criar versões apimentadas dos capítulos do hit adolescente "Crepúsculo"

Não sou mãe e tédio é um luxo que não tenho, mas li Crepúsculo, os três volumes, assim como leio quase qualquer porcaria que cai em minhas mãos, das bulas dos produtos de beleza que compro aos folhetos descrevendo lançamentos imobiliários que teimo em aceitar de moças e rapazes que cansam as canelas nos sinais. Era verão e devo admitir que li compulsivamente, como fazia na pré-adolescência quando minha avó me repassava um romance de Sidney Sheldon (O Reverso da Medalha, lembram?) ou Danielle Steel. Por isso digo com propriedade: Chris Grey é Edward Cullen cuspido e escarrado, com o mesmo bom mocismo e habilidades espetaculares. Vejam só: os dois dirigem carros potentes como pilotos de F-1 – Grey tem também um helicóptero –, tocam piano eximiamente, amam música clássica (Edward “Claire de Lune” de Debussy, Chris as “Bachianas Brasileiras” de Villa-Lobos) e têm dotes físicos capazes de enfeitiçar qualquer mulher. Anastasia Steele também é cópia escarrada de Bella Swan: é desajeitada e vive tropeçando; não reconhece a própria beleza; tem uma mãe doce, que, no entanto, está mais preocupada em fazer dar certo o casamento com o novo marido; um pai fechado, mas amoroso; e um amigo moreno lindo que é apaixonado por ela – e com quem deveria ficar se tivessem um pingo de juízo na cabeça (Jacob é igualzinho ao José de Anastacia).

Muito se falou sobre a esperteza de Erika ao inserir sexo literal em sua ficção, e os números provam que ela de fato fez um legítimo "hole in one", afinal foram 31 milhões de livros vendidos apenas em língua inglesa. Mas se era apenas sexo que queriam as donas de casa que fizeram a trilogia entrar para a história da literatura mundial, por que não se contentar com as revistas masculinas que publicam “cartas de leitores” com relatos bem parecidos aos descritos por Erika? É aí que entra o talento de Stephenie, que com sua trama de vampirinhos trouxe para o século 21 personagens típicos dos romances de Jane Austen e das irmãs Brontë. Mas isso já foi bem explorado pelos detratores de Crepúsculo, então não vou nem entrar no mérito. E L James chupou a trama de Stephenie Meyer, que bebeu na fonte de Jane Austen, e por aí vai. Ladrão que rouba ladrão, cem anos de perdão!
 
 

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