Decidido a deixar seus tempos de vampiro de lado e vestir a camisa do
cinema indie, nos EUA e fora dele, o inglês Robert Pattinson, o Edward
de A Saga Crepúsculo, causou sensação no Festival de Cannes, encerrado
no domingo, no papel de um ladrão classe B em Good Time, que arrancou
dele elogios em múltiplas línguas. Mas antes disso, em fevereiro, ele
desconsertou o Festival de Berlim, na capital alemã, ao aparecer com uma
barba desgrenhada e volumosa, nas selvas amazônica, como coadjuvante de
luxo em Z: A Cidade Perdida, que chega nesta quinta-feira ao Brasil com
status de cult. Despido de seu semblante de galã, ele aposta na
amargura para viver o explorador Henry Costin, o aliado nº1 do herói do
aclamado filme de James Gray: o coronel Percy Fawcett, vivido por
Charlie Hunnam.
"Uma vez, na época de Crepúsculo, fomos fazer a promoção de um dos
filmes em um estádio lotado e, quando percebi, estava rodeado por 15 mil
pessoas de pé, a aplaudir a gente como se fôssemos os Beatles ou a
seleção nacional de futebol. Aquilo foi uma manifestação de carinho, mas
me assustou. Hoje, os filmes que eu busco fazer já não lotam
estádios... Mas as pessoas me olham no olho e enxergam a minha arte",
disse Pattinson em entrevista ao Omelete, em Cannes, ciente da estreia
em solo brasileiro da aventura pilotada por Gray, realizador cultuado
por filmes intimistas como Fuga Para Odessa (1994) e Amantes (2008).
Sob a direção dele, Pattinson faz de Costin uma testemunha para o
expansionismo (e a loucura) de Fawcett em seu sonho de encontrar o
Eldorado (ou Z), uma terra de ouro maciço que perpassa várias mitologias
latinas. Produzido por Brad Pitt com base em um orçamento de US$ 30
milhões, Z: A Cidade Perdida esgotou ingressos em todas as suas sessões
na Berlinale e angariou um boca a boca caloroso em circuito americano,
onde já faturou cerca de US$ 10 milhões.
"Este é um filme sobre achados e perdidos: se perder na selva e se
achar na Natureza, sem as amarras da civilização. Talvez este seja o
melhor filme que eu já tenha feito, pelo fato de me levar para uma
realidade cultural muito distante da minha, entre os povos amazônicos de
hoje. Eu fiquei anos associado a esta produção até ela, de fato, ser
rodada, por uma opção profissional, não apenas em Gray, mas nesta
perspectiva mais intimista sobre o heroísmo", diz Pattinson, que vai filmar o thriller de máfia Idol’s Eye, com Olivier Assayas, ao lado de Sylvester Stallone.
Gray escolheu o astro britânico por seu desprendimento às amarras hollywoodianas. "Este
é um filme sobre um expedicionário deslocado em sua classe social e no
Velho Mundo, rodado na Colômbia com índios de quatro tribos distintas,
com liberdade para atuar como quisessem diante da câmera. Precisava que
Hunnam tivesse um parceiro com a disciplina da descoberta", disse o
diretor, que apresenta Fawcett como um aventureiro indigenista,
incomodado com a burocracia e com os ranços imperialistas da Sociedade
Real de Geógrafos do Reino Unido. "Busquei imprimir um olhar sobre a institucionalização do militarismo, numa filosofia belicista a qual Costin se opõe".
Calcado num perímetro entre Bolívia, Brasil e Colômbia, com várias
referências ao Brasil, incluindo na trama um anão que fala português,
este épico intimista de tom claustrofóbico investe na investigação
histórica, ressaltando a busca de Fawcett por uma cidade mítica, a tal
Z. O novo Peter Parker, o também inglês Tom Holland, entra em ação no
terço final, como Jack, o filho mais velho de Fawcett, que adquire
contornos heroicos na atuação de Hunnam.
"Atuar é uma opção pelo inusitado, para fugir da inércia", diz Pattinson.
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