Publicado em:21 de maio de 2017

Crítica de Come Swim por The Telegraph


O primeiro filme de curta-metragem de poucos diretores inclui o trabalho de uma companhia de efeitos visuais vencedora de um Oscar, música de St Vicent e um time de dublês de três pessoas. Mas poucos diretores são Kristen Stewart. Apenas uma é, em fato, e ela trouxe seu primeiro curta, de 17 minutos, a Cannes esse ano: uma peça abstrata chamada Come Swim, na qual um homem (Josh Kaye) que permanece sem nome no filme em si, mas é identificado como Josh nos créditos finais, luta com uma sede insaciável – às vezes dentro de um sonho, e talvez às vezes não.

É um trabalho sério, sombrio, muitas vezes não sutil – mas também é disciplinado, bruscamente coerente e alfabetizado em uma maneira surrealista à moda antiga. E seu compromisso com sua própria estranheza parece corajoso, dado que a diretora é uma jovem atriz (que obteve seu sucesso em nada menos do que uma franquia de vampiro) que ousou a ir pro outro lado da câmera. Em outras palavras, seria um filme fácil de zombar.

Fácil, mas errado. Come Swim é significativamente melhor do que alguns dos projetos imprudentes dirigidos por atores que o festival tem programado recentemente – talvez, você às vezes imagina, como uma brincadeira (um passo a frente Ryan Gosling e Sean Penn). Cannes passou os últimos cinco anos acolhendo Stewart como uma estrela de cinema mundial a ser considerada, e esse plano deu certo: em 2015, ela se tornou a primeira americana a ganhar um César da Academia Francesa. Então, se eles agora também querem dar a ela uma plataforma como cineasta, mais poder para eles, e ela.

Come Swim abre com uma cena suave de uma onda preta antes de cortar para a espuma do mar passando rápidamente pela tela, uma imagem fortemente reminiscente dessa vanguarda antiga, a tira do filme exposa por muito tempo na luz e calor do projetor.

E então aparece Josh: primeiro suspenso no oceano e depois em sua cama, lentamente alcançando um copo de água, que ele entorna, levando o filme para outro cenário, onde ele pega a água direto da torneira. Josh é acometido por uma voz incorpórea, crítica (e feminina), que soa diversamente como sua consciência, seu insistente super-ego, seu ex-amor, talvez até mesmo uma espécie de vítima dele. A voz se sobrepõe com a sua própria, e as palavras que ambos falam são por vezes críticas e íntimas, embora ambiguamente assim: “Eu estou recebendo água na minha boca,” “Apenas parece estupido,” “Esse é o meu corpo, coma isso,” e mais sedutoramente: “ Uma mentira nunca é uma mentira, apenas um código que você não pode quebrar.”

Enquanto isso, Josh encontra-se em vários cenários, sempre bebendo, muitas vezes em carros, às vezes desidratado, até que o alívio finalmente chega na forma de submersão corporal. Algumas tomadas envolvem uma técnica de sobrepintura digital que consegue um efeito não diferente da pintura ou de arranhar o filme fotográfico que uma produção menor poderia ter conseguido por uma fração da porcentagem do preço. Mas, como eu disse esse não é um primeiro filme comum.

Os cínicos podem zombar que qualquer pessoa com o orçamento e o calibre da equipe de Stewart poderia ter feito um bom filme. Mas mesmo com apenas segundos de reflexão você pode apontar inúmeros exemplos onde isso não aconteceu. A verdade é: ela tem algo – e quando se tem algo a mais, Cannes vai, sem dúvida, dar espaço.



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