Publicado em:9 de março de 2017

Nova entrevista de Kristen para The Guardian

Kristen concedeu uma entrevista ao site inglês The Guardian durante sua passagem por Cannes onde ela fala sobre sua vida pessoal, sua sexualidade e revela ter participado de um álbum beneficente em apoio ao Planned Parenthood.


O novo filme de Kristen Stewart a escala como uma personal shopper e investigadora espiritual; pega entre cidades, provando várias roupas diferentes para ver o tamanho. Ela está exausta e motivada, assombrada por seu passado e sem certeza de seu futuro. O roteiro a chama de Maureen, mas talvez seja apenas uma folha de figo. Stewart insiste que, qualquer papel que ela aceita, ela está basicamente interpretando a si mesma.

Ou talvez seja o destino de toda estrela adolescente que cresce na frente das câmeras e comete erros em público, até que chega o ponto onde se torna difícil dizer onde a pessoa termina e onde começa a performance. Stewart, apesar de tudo, ainda estava no ensino médio quando a franquia Twilight a abriu para o público. Porta estável, cavalo disparado, e qual escolha ela tem? Ela diz: “Eu costumava ter medo. Me sentia violada. Mas isso era um mecanismo de defesa, acho que superei agora.” Ela fala como uma veterana, apesar de não ter ainda 27 anos.

Nós nos conhecemos em um bar de frente para a praia no Festival de Cannes, com a multidão em massa sendo bloqueada por cordas na rua. A atriz se joga no sofá como uma mulher de 1920, com o cabelo descolorido e um vestido prata transparente. Ela explica que assim que a entrevista terminar, a elegância volta para a caixa. Ela está exausta e vai tirar seis meses de férias.

Personal Shopper é sua segunda colaboração com o diretor francês Olivier Assayas, colado com a sua primeira que a rendeu um César, Clouds of Sils Maria. É uma magnífica história sobre fantasmas, assombradas por mensagens de texto anônimas enquanto Maureen concilia seus deveres com as tentativas de fazer contato com seu irmão gêmeo morto. Stewart diz que as filmagens foram difíceis – 16 horas por dia, seis dias por semana – o que provavelmente conta para a aparência cansada de Maureen. “No final, eu pareço macabra e eu acho que consegui isso,” ela diz.

Na verdade, ela entrega uma performance espetacular onde ela é estranha e crua, uma pintura respingada, uma mulher virada de dentro para fora. As falas de Stewart possuem um hábito curioso de morrer no final. Seu olhar salta para os lados, como se ela estivesse procurando por uma saída. Seus detratores podem (e fizeram) identificar essa qualidade como uma evidência como uma técnica pobre de atuação, que é na verdade perder o ponto. Você pode acusar Holden Caulfield de ser um narrador duvido, ou reclamar que Marlon Brando totalmente cai em pedaços em On the Waterfont. A grosseria de Stewart é deslumbrante. Paradoxalmente, eu acho que isso pode ser o seu começo.

“Eu não posso ser nada além de mim mesma,” ela diz. “Eu conheço atores que dizem: ‘Oh, esse papel não tinha nada a ver comigo, é só o personagem.’ E eu penso: ‘Sim, mas é a sua interpretação do personagem.’ Porque você nunca para de ser você mesma. Sempre vai estar lá. É a persistência da vida. Uma interação com um bom diretor pode trazer você para mais perto de alguns aspectos da sua personalidade que não eram tão aparentes antes. Mas ainda é sobre você. Ainda é tudo sobre mim.”

A propósito de nada, ela me diz como ela começou a atuar: cantando em uma produção da escola quando ela tinha nove anos. “E eu era tão auto consciente, não era uma artista natural, apenas uma estranha instável. Mas havia um caça talentos na platéia, alguém que manda 100 crianças para o estúdio. E eu de alguma forma fui pega por esse vendaval e pensei: ‘Eu quero isso, eu quero atuar.'”

Ajudou que seus pais estavam no negócio. Seu pai era um cenógrafo e sua mãe uma supervisora de roteiros. “Então eu cresci em sets e sempre era como férias. Porque quando uma equipe se juntar, é como sua própria banda de piratas, protegendo seu tesouro. Isso toma o seu tempo. Minha mãe e meu pai chegavam em casa muito tarde. Eu acordava uma da manhã e corria para eles e eles traziam comida do trabalho em suas bolsas e todas essas histórias sobre seus dias e eles até cheiravam diferente.” Ela franze o nariz, como se estivesse cheirando o ar. “Eles cheiravam como o mundo. Como se estivessem passeando pelo mundo”

Durante sua pré adolescência, ela já conseguido trabalhos decentes. Ela co-estrelou como a filha diabética de Jodie Foster em Panic Room, de David Fincher, interpretou a vítima de estupro em Speak e como a emocionante coadjuvante em Into the Wild de Sean Penn. Mas foi seu papel em Twilight como a triste Bella Swan que mandou sua carreira para a estratosfera. A franquia arrecadou $3.3 bilhões. A revista Forbes estimou seus ganhos em 2012 em $32 milhões. Quando Twilight estreou, não tinha mais volta.

“Eu fico curiosa sobre como eu seria se tivesse ido para a faculdade,” ela diz. “Porque eu dei duro no ensino médio. E algumas vezes me irrito com a minha inferioridade, porque há coisas que eu não sei. Mas então, há sempre coisas que você não sabe.” Ela encolhe os ombros. “E eu ainda leio muito. Meu autor favorito é John Steinbeck. East of Eden é minha bíblia. Eu amo Kerouac. Bukowski. Na escola, eu amava The Outsider.” Ela vasculha seu cérebro para outros nomes.

Eu pergunto se ela sente falta de ser anônima e ela admite que sim, tanto que não é engraçado. “Porque eu sou uma pessoa tão do povo. Eu sou tão interessada neles que é muito irritante que eles são interessados em mim, porque eu não posso olhar para ninguém sem me notarem. Eu quero poder sentar em um lugar e observar as pessoas, e isso é difícil para mim. É uma perspectiva única, com certeza.”

Nova York não é tão ruim, algumas vezes ela passa despercebida. Cannes é o pior, ela diz. Cannes é insano. Ela gesticula para a rua, onde os carros do festival mal podem andar por causa de turistas e fotógrafos. “Digo, se fossemos lá fora agora, eu estaria em perigo físico.”

Eu sugiro um teste. E se formos para uma caminhada? Stewart olha para mim como se eu tivesse perdido a cabeça. “De jeito nenhum, cara,” ela diz séria. “De jeito nenhum.”

O problema, eu sugiro, é que sentimos como se já conhecêssemos ela, que temos alguma falsa reivindicação de seus segredos mais profundos. Ela tenta manter sua vida pessoal privada, mas os detalhes acabam vazando. Ela tem que entrar na briga para recuperar o controle do drama. Quando seu romance com o co-star de Twilight, Robert Pattinson, terminou, por insistência, Stewart respondeu ao lançar um pedido público de desculpa. Mais recentemente, seu relacionamento com a cantora francesa Soko e a especialista em efeitos Alicia Cargile apresentaram um novo dilema. De repente, sua sexualidade foi reformulada como uma declaração política. Ela se viu abraçada como a maior atriz gay de Hollywood, de fato uma garota dos pôsteres para a comunidade LGBT.

“Bom, sim,” ela diz. “E isso não tem sido nada mais do que positivo. Digo, é difícil falar. Eu não quero parecer arrogante, porque todo mundo tem sua própria experiência. O problema todo da sexualidade é muito cinza. Eu estou tentando reconhecer essa fluidez, essa coisa cinza, que sempre existiu. Mas talvez só agora podemos falar sobre isso.”

Isso faz dela uma pioneira – uma rara A-lister de Hollywood colocando sua cabeça acima do parapeito – ou a cultura inteira mudou? “Oh, eu acho que as coisas estão mudando. Digo, eu não acho que eu teria abordado minha vida de um jeito diferente se não fosse esse caso. Mas quem sabe? Individualmente nós somos todos parte dessa mudança então eu levo algum crédito por isso, eu acho – não tem nenhum motivo pelo qual eu deveria me afastar disso. Mas todo o prejuízo, está indo embora com certeza.” Ela reconsidera. “Digo, sim, ainda está lá definitivamente. As pessoas ainda tem algumas experiências horríveis. Mas é legal que você não tem mais que colocar tudo para baixo. Essa certeza se você é hétero ou gay ou qualquer coisa.” Ela dá um sorriso rápido e pega sua água. “Você não está confuso se você é bisexual. Não é nada confuso. Para mim, é meio que o oposto.”

Seus deveres com a imprensa estão completos e o Festival de Cannes acaba. Stewart volta para o mundo, um adorável e estranho trabalho em andamento. Ela filma um curta, Come Swim, que estreia no Sundance. Ela aparece em um papel coadjuvante em Billy Lynn’s Long Halftime Walk, de Ang Lee, e como uma advogada em Certain Women de Kelly Reichardt. A imprensa está dizendo que ela tem uma nova namorada, a modelo Stella Maxwell. Fotógrafos as flagram em um passeio de compras.

O mundo, em sua parte, está girando também. Donald Trump é eleito presidente, os estados mudando de azul para vermelho. Stewart, como apresentadora do Saturday Night Live, brinca com os tweets de Trump em 2012, suplicando para Robert Pattinson largá-la. Ela diz que se o Trump não gostava dela na época, ele provavelmente não gosta agora. “Porque eu sou tipo, muito gay, cara.”

Uma noite no fim de fevereiro, eu falo com ela novamente, no telefone. Tem muita coisa para falar, não sei por onde começo. Ela diz que o Sundance foi ótimo e que se divertiu no SNL. Ela não sabia o que dizer, mas então lembrei-a dos tweets do Trump. Eles foram estranhos na época, hoje eles são surreais. “É provavelmente a coisa mais fascinante e bizarra que já aconteceu comigo,” ela diz. “Ser pessoalmente criticada pelo presidente. É como se eu me tornasse parte da história.”

O mundo pareceu mais brilhante e fluido do que quando nos falamos em Cannes. Desde então, as apostas ficaram mais altas. A agenda liberal corre risco de ser revertida. Stewart acredita que as eleições foi um despertar. Isso a forçou a escolher seus projetos com mais cuidado, para pesar no valor social. Ela menciona que ela recentemente ajudou em um álbum beneficente para o Planned Parenthood. “E obviamente isso tudo é por causa da pessoas que não vou nem falar o nome. Porque a verdade é, ele é aterrorizante. Ele não é nada engraçado.”

A linha telefônica falha, nosso tempo está quase acabando. Ela diz: “Se tem uma fresta de esperança em tudo isso, é que eu sei que a arte, música e filme vão experienciar uma mudança, uma reação direta ao que está acontecendo com esse país. Talvez já estamos vendo isso, provavelmente.” Stewart dá uma pequena risada. “Me escute,” ela diz. “Sempre procure pela fresta de esperança.”



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