Publicado em:17 de março de 2017

Nova entrevista de Kristen e Olivier falando com o site The Washington Post


Não deixe o título te enganar. Em Personal Shopper, segundo filme de Kristen Stewart com o diretor francês Olivier Assayas, a ocupação titular se refere apenas ao trabalho diurno da personagem de Stewart, Maureen, uma jovem mulher que passeia por Paris comprando roupas e joias caras para sua cliente (Nora von Waldstatten), uma celebridade conhecida mundialmente. No fundo, ela odeia esse trabalho.

Sua personagem é na verdade conhecida, como você vê, como uma artista. Ela também é meio que uma médium espiritual.

De noite, Maureen se aventura pela casa vazia de seu irmão recentemente morto, Lewis, procurando por algo além de seu túmulo. O gêmeo de Maureen, Lewis também é um médium e divide uma doença de coração com sua irmã. Eles fizeram um acordo onde quem morresse primeiro tentaria mandar confirmações de uma vida após a morte.

Mas seria um erro o chamado Personal Shopper, uma história sobre fantasmas em qualquer sentido literal, diz Assayas, que se sentou para uma conferência via telefone com sua atriz principal para corrigir desavenças sobre seu novo filme. Personal Shopper é, de acordo com o cineasta de 62 anos, nada menos que uma versão do filme Ghostbusters, uma metáfora para “visibilidade e invisibilidade”, apesar da precisa de um ectoplasma.

“É a história sobre uma pessoa que gradualmente consegue ficar em paz com si mesma, entender sua identidade, eventualmente, sua própria feminilidade,” diz Assayas. “Eu estou usando a convenções de um filme de gênero porque é a melhor maneira de transmitir o medo interior, a ansiedade e muito mais.”

Se o título também é uma metáfora, é um bem especifica. Afinal, não é a tarefa de um personal shopper, canalizar a personalidade – ou pelos menos os gostos – de um outro individuo? No filme, nós vemos Maureen estudando o trabalho de Hilma af Klint, um pintor sueco que diz que suas pinturas mais famosas foram feitas por seres de outro plano astral, assim como o escritor Victor Hugo, que acreditava conversar com espíritos de pessoas famosas. Canalizar é, de certo modo, o que todo ator faz?

De acordo com Stewart – que diz não ter certeza de acredita em fantasmas – a reposta é um retumbante sim.

“Eu acho que é realmente exagerado e idiota para um auto proclamado artista ter um imenso crédito por seu trabalho, de um modo que isso é auto comemorativo,” diz a atriz de 26 anos, que em 2015 se tornou a primeira americana a ganhar um César – o equivalente francês do Oscar – por seu desempenho em Clous of Sils Maria. “Realmente, você acabou de chegar ao fim de algo que passa por você.”

“O artista é apenas a soma de seu trabalho,” continua Stewart, quotando o livro de Patti Smith, Just Kids. “O homão pode julgá-lo. Para a arte de Deus, e pertence a ele.”

Se o homem não pode julgar Personal Shopper, ele certamente tentou (embora as notas sejam mistas até agora.) Uma audiência vaiou o filme após uma exibição para jornalistas durante o Festival de Cannes. Então, na noite seguinte, a estreia do filme no festival recebeu palmas por cinco minutos.

Como atriz, Stewart diz, ela toma esses altos e baixos, e compara seu melhor trabalho com um tipo seance. “Nunca houve um tempo onde eu fiz uma cena e olhei ao redor e fale: ‘Oh, nós arrasamos. Nós deveríamos estar orgulhosos disso.’ O que você faz é olhar ao redor e falar: ‘Oh meu Deus, vocês sentiram isso também? Vocês se sentiram do mesmo jeito?’ Uma vez que você percebe que que sim, e que você fez essa conexão, é sempre algo espiritual. É tipo ‘Wow, nós somos sortudos que somos abertos o bastante para deixar isso passar sobre nós.’”

Seja qual for o elogio que Stewart tenha recebido pelo filme – e mais de um crítico chamou seu desempenho de maravilhoso – a atriz dá toda a glória não para Deus mas para Assayas, que diz que escreveu a personagem Maureen, uma garota profundamente perdida e perturbada, especificamente para Stewart. “Kristen tem um controle tão incrível do que ela está fazendo,” ele diz. “Ao mesmo tempo em que ela está seguindo a liberdade. É uma mistura extremamente incomum.”

Stewart descreve a maneira que Assayas faz cinema como tendo menos impulso de contar uma história preconcebida do que fazer perguntas abertas. “Neste caso,” ela diz, “havia o assunto [fantasma], mas mais importante, havia perguntas pontuais. Mas toda vez que alguém do elenco – e também todo membro da equipe, comigo inclusa e Olivier – todos nós tínhamos respostas diferentes para essas perguntas. Se nossas respostas fossem as mesmas ou não, isso não importava. Eles definiram o filme, mas não alteraram nosso curso. O que finalmente descobrimos é que tudo era uma revelação, e não uma realização.”

Não que tenha algo errado em fazer filmes onde tudo é cortado e seco, Stewart diz. Ceder o controle para um diretor pode ser tão libertador quanto deixar que os espíritos te movam. “Eu me envolvi em filmes em que uma história é preexistente e é meio finita, onde você foi contratada para servir como uma porta voz para um cineasta.” diz ela. “Você sente esse controle, e não é invalidado, ironicamente. Às vezes, é realmente muito gratificante bater algo duro para alguém, e fazer isso de uma forma que você e controlada por eles.”

Por outro lado, Stewart diz, ela chegou a perceber que sua maior força agora reside no que ela viu uma vez como sua maior fraqueza: Essa sensação de torpeza dolorosa que vem de um ser introvertido naturalmente tímido. E como ela ganhou essa percepção? Somente da maneira mais difícil, ela explica: fazendo filmes ruins. “Qualquer hora qualquer coisa foi super planejado, ou parecia ser uma boa ideia no papel e não tinha nada que poderia dar errado, sempre acabou sendo banal e vazio e por isso não vale a pena.”

“Eu estou mais confrontável,” diz ela, “sendo desconfortável.”


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