Publicado em:12 de março de 2017

Kristen e Olivier Assayas encontram um ritmo no assombrado mundo da fama


No fundo desarrumado de um restaurante no East Village, Kristen Stewart está sarcasticamente motivando o diretor francês Olivier Assayas a fazer uma sessão de fotos.

“Você está na América agora, cara,” Stewart brinca. “Nós temos que vender esse filme.”

Stewart, uma veterana nos filmes de estúdio com 26 anos, é bem familiarizada com divulgações de filmes. Mas com Assayas, ela encontrou a liberdade dessas preocupações. Ela e o diretor formaram um estranho porém formidável laço que resultou em dois filmes muito elogiados, os dois feitos na Europa, muito longe do poder judicial de Hollywood.

Eles são um par estranho: Ela, uma A-lister rebelde nascida em Los Angeles que se tornou uma das atrizes mais legais e sem compromisso dos filmes; ele, um modesto parisiense que os filmes inteligentes ficam entre realidade e ficção.

O que faz eles se darem bem? Ele riem.

“Eu não tenho certeza,” diz Assayas. Stewart concorda. “Essa é a pergunta principal,” ela diz. “Eu não sei. Gostamos um do outro.”

Seu filme mais recente, Personal Shopper, é cheio de mistérios também. É uma história de fantasmas que se passa no tempo das mensagens de texto e de pesquisas no Google. No filme, que estreou na quinta feira, Stewart interpreta uma gêmea que perdeu o irmão. Seu trabalho é fazer compras em Paris para uma celebridade, mas ela também é médium, e uma série de eventos estranhos a fazem acreditar que um espírito (seu irmão?) está fazendo contato com ela.

Personal Shopper segue seu anterior Clouds of Sils Maria, outro filme enigmático onde Stewart interpretou uma ajudante (uma assistente para a atriz de teatro de Juliette Binoche) para um personagem mais famoso. (O papel deu a Stewart um César, a primeira americana a ganhar o prêmio francês.) Mas ao representar as personagens de fora do holofote – em filmes fora de Hollywood – Stewart nunca foi tão verdadeira a si mesma na tela.

“Eu poderia fazer filmes sobre Kristen sendo uma estrela de cinema ou qualquer personalidade que uma atriz tem nas redes sociais,” diz Assayas. “Mas o que me interessa é a pessoa. Então eu jogo o papel de celebridade em outra pessoa, para que ela possa ser livre disso.”

“Talvez no próximo eu possa interpretar uma atriz famosa,” brinca Stewart. “Tente normalizar isso!”

Houve muitos momentos onde a fama de Stewart invadiu os bastidores de Personal Shopper. Filmando pelas ruas de Paris (Stewart dirige uma moto pela cidade no filme), eles estavam rodeados de paparazzi. Assayas reconhece que por isso e outras razões (uma equipe difícil, sua subestimação da complexidade de uma longa sequência de mensagens de texto) o filme tinha uma “energia estranha.” “Nós tivemos dificuldades nesse filme,” ele diz.

Mas Stewart diz que ela canalizou os intrusos em sua personagem assombrada. “Eu pensei que eu estava sendo tirada do ambiente, e foi bom,” ela diz. “Me fez mais sensível. Meus nervos estavam no limite.”

Nos dois filmes, Stewart teve a chance de comentar astuciosamente sobre o complexo industrial da celebridade.

“Como alguém vendo de fora, você pode comentar sobre as coisas que são inegavelmente estranhas,” diz Stewart. “Mas se você é a pessoa que está no centro disso tudo, então esses comentários se tornam maldosos e você soa ingrata. Foi legal poder falar a verdade e não ser crucificada por isso.”

Ainda assim, a ex atriz de Twilight, com cabelos loiros recém raspados, merecidamente fez sua reputação como uma estrela invulgarmente direta e franca. Ela pegou papel atrás de papel, geralmente em filmes menores (Certain Women, Equals, Café Society), com uma fome insaciável de trabalhar e continuar explorando. Stewart também estreou um curta que ela dirigiu no Sundance deste ano.

Em seu memorável monólogo no Saturday Night Live no começo do ano, ela refletiu sobre quando Donald Trump em 2012 repetidamente tweetou sobre como seu namorado na época, Robert Pattinson, deveria “chutar” ela. “Foi inconcebível, na verdade,” diz Stewart. “Naquela época, eu conhecia ele como uma estrela de reality show. Fiquei tipo: Quem é esse cara?”

“Para ser honesta, há tantas coisas significativas e muito efetivas que ele diz o tempo todo,” continua Stewart. “Isso foi apenas uma coisa muito estranha e fascinante porque é tão insignificante em termos do que importa. Valeu a pena que todos soubessem porque foi estranho pra caralho.”

Ela também, em repreensão ao Trump e em inspiração para outros, anunciou, “E eu sou muito gay, cara.”

“Eu realmente me permiti viver mais livremente e sem considerar o efeito em outras pessoas que vivem minha vida,” diz Stewart. “Houve um tempo que percebi que as coisas que você faz ou diz quando há tantas pessoas olhando para você, afetam os outros. Então estou muito orgulhosa. Mas ao mesmo tempo, odeio que isso é uma grande coisa. É um fato da vida agora mas tipo, tanto faz. Pessoalmente, não é uma grande coisa mas eu sei que pode ser para outros.”

Stewart e Assayas podem, em muitos jeitos, serem opostos. Mas os dois são desajeitados ao seguir seus instintos em direções imprevisíveis e buscar perguntas que sabem que não terão resposta. Qualquer que seja a razão, eles combinam.

“É um fato que um filme como Personal Shopper acontece por causa da Kristen,” diz Assayas. “O jeito que funcionamos me permite tentar, em algum momento, coisas mais ousadas. De alguma forma, ela me protege.”



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