Publicado em:29 de julho de 2016

Nova entrevista de Kristen para The Sydney Morning Herald


Em uma era de narrativas de celebridades, a história de Kristen Stewart provou ser um best-seller duradouro. Pesquise Kristen Stewart no Google agora e há várias pequenas “notícias” com fotos dela de mãos dadas com mulheres em público, com textos que acompanham dizendo que ela não liga mais, que ela vai ser quem ela quiser.

Claramente, isso não inclui ser uma pessoa que pode entrar em uma loja sem ser perturbada. Woody Allen, que a dirigiu em seu novo filme, ‘Café Society‘, brincou em Cannes dizendo que ele não suporta ouvir atores “reclamando sobre privacidade e paparazzi” porque ninguém deveria reclamar sobre poder conseguir uma boa mesa em um restaurante. No dia seguinte, Stewart reage de volta.

“Ele tem 80 anos de idade. Ele foi famoso em uma época muito diferente,” ela diz rapidamente. “Nós temos respostas completamente diferentes para essa pergunta porque nós tivemos experiências completamente diferente com a fama e com o jeito que consumimos o reality show que é a indústria do entretenimento. Tornou-se algo que nunca foi e eu fui colocada como uma personagem que está sendo desenvolvida por todos, menos por mim mesma. E eu tenho parte nisso, com certeza.”

“A impressão que as pessoas tem de mim não está errada; você pode ter uma impressão acumulativa de mim baseada em fotos, entrevistas, filmes, ou qualquer coisa, e isso não é errado. Isso é, você sabe, uma impressão honesta de mim. Mas você não pode negar que a indústria estrondosa que motiva essas histórias é sobre dinheiro e nada mais.”

Um momento, por favor, para considerar a recente experiência de notoriedade de Woody Allen: o que quer que ele tenha ou não tenha feito, a fama não tem sido exatamente um piquenique no parque para ele, também. Stewart, entretanto, fala francamente; na verdade, é o jeito como ela fala sobre a fama que a destaca como uma nova geração de celebridade, talvez o único exemplo dessa geração, que é quem ela quer ser e diz o que ela quer dizer. Ainda mais notavelmente, ela se tornou essa pessoa enquanto estava nos holofotes. Não havia outro lugar para ela fazer isso; seus anos de ‘Crepúsculo‘ começaram quase uma década atrás, mas ela ainda tem 26 anos.

Não que seu relacionamento com a fama fosse confortável. Stewart não era uma adolescente confiante; ela diz, agora, que ela sofreu de uma ansiedade paralisante. “Eu não quero dizer em relação a qualquer pressão do meu trabalho. Somente quando você deita sua cabeça no travesseiro de noite e você pensa, ‘O que vai acontecer? Eu tenho controle sobre isso?’ E lutar com ter um corpo físico e não poder se afastar disso, a a implacabilidade de ter uma mente e também não ter uma pausa disso. É realmente esmagador.”

Agora que ela falou sobre isso, você lembra como ela costumava parecer que estava tentando escapar da sua própria pele. Há uma gravação em algum lugar do YouTube, onde ela está no palco promovendo ‘The Runaways‘ com sua co-star Dakota Fanning; enquanto Fanning está relaxada e quase sobrenaturalmente equilibrada, como se ela tivesse nascido para ficar em pódios, Stewart – que tem atuado desde que tinha nove anos de idade, então ela nasceu nisso – se contorce desconfortavelmente, como se ela tivesse migalhas por dentro de suas roupas. Ela não se contorce agora.

E enquanto ela costumava ser hesitante e arrogante em entrevistas, ela não compartilha mais a visão da maioria dos atores de que fazer publicidade é a penalidade que você paga por recompensas criativas. “Quando você se mantém verdadeiro consigo mesmo e verdadeiro com a sua arte, não há um lado negro, porque não há uma pergunta que pode te confundir se você está vindo de um lugar honesto,” ela diz. “Eu acho que o que costumava me alienar e me sentir colocada em um lugar, na verdade aliena a pessoa que está perguntando. Porque nós não compartilhamos os mesmos valores, então eu não ligo para essa pessoa. E então isso não me afeta.”

Sua escolhas de filmes desde que ‘Crepúsculo‘ se apagou, mostram a mesma determinação corajosa de agir independentemente. No Festival de Cannes, nós nos encontramos para discutir seus papéis em ‘Café Society‘ e ‘Personal Shopper‘, uma história de fantasmas cerebral do diretor francês Olivier Assayas, que ganhou o prêmio de Melhor Diretor do Festival. Seus outros filmes recentes incluem o suspense fracassado ‘American Ultra‘ e o muito estranho e intrigante ‘Equals‘, onde ela interpreta uma jovem em um mundo onde as emoções são proibidas.

Nós ainda temos que vê-la em ‘Certain Women‘, que está sendo exibido no Melbourne International Film Festival desse ano junto com ‘Personal Shopper‘. É dirigido por Kelly Reichardt (Meek’s Cutoff) e mostra Stewart como uma jovem advogada que começa um relacionamento com uma mulher solitária que cuida de um rancho. No próximo filme de Ang Lee, ‘Billy Lynn’s Long Halftime Walk‘, ela interpreta a irmã de um veterano de guerra do Iraque; em seguida, ela supostamente fará um filme sobre a assassina Lizzie Borden. Todos são interessantes, nenhum desses – com a possível exceção do de Ang Lee – com a probabilidade de fazer as caixas registradoras fazerem barulho. Essa não é uma preocupação de Stewart.

Reconhecidamente, ‘Café Society‘ é um clássico de Allen: uma comédia romântica que se passa no auge de Hollywood, onde as casas parecem sets de ‘The Gay Divorcee‘ e pessoas glamurosas bebem martinis até o amanhecer. Stewart interpreta Vonnie, uma assistente de espírito livre que faz amizade com um estranho ingênuo – o alter-ego comum de Allen, interpretado aqui por Jesse Eisenberg – que se apaixona perdidamente por ela.

“As maneiras e comportamento de Vonnie são bastantes fora dos meus traços de personalidade imediatos,” Stewart disse, “mas eu não acho que eu esteja tão longe assim da personagem… Eu acho que para a história ser contada no contexto daquela época, é muito moderno e realmente legal que ela possa permitir-se relacionamentos não convencionais e não se sentir mal por isso. Como eu me relaciono com isso? Acho que todos nós podemos nos relacionar com isso de muitos jeitos.”

Que Stewart deveria pular na oportunidade de trabalhar com Allen e seu antigo amigo Eisenberg não é tão surpreendente; o que é mais surpreendente é que ela fez um teste para o papel, gravando um vídeo e se apresentando para uma leitura completa.

“Eu realmente gosto de fazer audição para alguma coisa,” ela diz. “Isso meio que valida seu lugar em um filme, ao invés do óbvio, ‘Ok, eu posso conseguir dinheiro para o seu filme.’ É tão difícil fazer um filme; se o cineasta tem que alterar suas escolhas para fazer isso… Bom, isso acontece muito. Eu não quero ser essa escolha alterada.”

‘Personal Shopper‘ é o segundo filme que ela fez com o diretor francês Olivier Assayas; ela já tinha feito uma audição, em certo sentido, ao interpretar a assistente pessoal de Juliette Binoche em ‘Clouds of Sils Maria‘.

“Eu acho que, agora, Kristen é uma das atrizes mais interessantes,” diz Assayas. “Não tenho certeza de quais são seus limites. Quando eu fiz ‘Clouds of Sils Maria‘ com ela, o papel não era escrito pra ela e foi meio que uma personagem unidimensional. Eu estava um pouco frustrado porque eu ficava pensando, ‘Oh meu Deus, eu posso instigá-la mais e mais – e um dia eu deveria tentar’. ‘Personal Shopper‘ é minha tentativa disso. E eu ainda não vejo onde ela para.”

Assayas é conhecido na França por fazer dramas complexos onde histórias pessoais e contextos políticos lutam contra o outro. Em ‘Personal Shopper‘, ele usa o vocabulário de filmes de terror – fantasmas, corredores escuros, músicas de suspense – para explorar o sentimento de perda. Maureen de Stewart – a qual o trabalho de comprar coisas para pessoas ricas e ocupadas dá nome ao filme – está de luto por seu irmão gêmeo a um ponto onde ela acredita que está vendo seu fantasma. Então ela começa a receber mensagens, parecendo ser do além.

Stewart está sozinha na tela pela maior parte do filme, esperando por sinais e lutando com a sua própria esperança, medo e ceticismo presente.

“O que Kristen teve que fazer foi incrivelmente complexo, porque ela teve que inventar sua própria velocidade e suas próprias dinâmicas e eu não posso ajudar ela com isso,” disse Assayas. “Quando é uma cena de diálogo, eu posso cortar. Posso acelerar, estender, consertar. Muitas cenas aqui foram totalmente dependentes de sua própria definição da honestidade de cada ação.”

Essas duas personagens – todas as suas personagens – vem de um lugar próximo a superfície de Stewart. “Esse é o objetivo,” ela diz. “Eu conheço muitos atores que gostam de se esconder por traz dos personagens para que eles possam explorar os assuntos mais livremente, mas eu sinto o oposto disso. Eu acho que assim que eu me sinto revelada e visível, é quando eu estou transmitindo algo que vale a pena de verdade. Vonnie definitivamente estava lá em algum lugar. Eu não estava fingindo.”

Maureen em ‘Personal Shopper‘ foi mais próxima de casa; ela lembrou o próprio passado de Stewart com ansiedade.

“Eu interpreto alguém que está girando entre ser alguém tão preso em sua própria mente, tão fechada, que ela não pode ser remotamente física; ela é tão abafada e debilitada por esses pensamentos que seu corpo literalmente atrofia. Eu conheço esse sentimento. E eu sei como impedir que isso acabe com a sua vida. Então quando eu olhei para Maureen, eu realmente senti por ela e eu queria apertar para avançar, porque eu sei que enquanto isso dura para algumas pessoas, é temporário. Eu acho que há uma luz no fim do túnel para ela e em algum ponto ela vai dizer, ‘Deus, eu realmente estava em um buraco lá!'”

Maureen tem outro lado, no entanto, expressado em compras. Assayas disse que ele escolheu fazer a personagem uma compradora porque ele queria fazer o filme sobre uma “personagem muito moderna”. É claro, como Stewart reconhece, há uma certa diversão ao ser escalada para esses papéis – como a assistente pessoal de uma atriz em ‘Clouds of Sils Maria‘ e uma personal shopper aqui – onde ela pode falar sobre “essas baratas” da imprensa ou agonizar sobre achar o sapato certo para sua cliente, “quanto mais aparente as superficialidades do que eu sou tão próxima”. É uma diversão irônica. Para Assayas, no entanto, há um ponto maior a ser feito.

“Eu queria fazer um filme sobre alguém imersa na vida moderna,” ele diz. “Para mim, o que define a vida moderna é a tensão entre o materialismo demente do mundo moderno e os anseios que temos por algo mais espírito e abstrato. E eu acho que a indústria da moda – e os empregos estúpidos que a indústria da moda pode gerar como o de personal shopper – são um resumo do materialismo. Isso é um resumo de um emprego alienado em nossa sociedade moderna. Como se todos esses empregos que tem a ver com a mídia não é o bastante. Como poderia ser? É sempre sobre frustração. Apesar de que, de um certo modo, a pessoa para quem está comprando as coisas é a mais alienada das duas.”

Stewart não possui uma compradora, mas ela trabalha há anos com a mesma estilista. Sem surpresa, ela tem uma visão mais benigna desse lado do mundo do que Assayas; para ela, pelo menos potencialmente, é sobre beleza e sensualidade.

“Você sabe, é um emprego completo, tipo cabelo, maquiagem e roupas. Eu me divirto muito com isso, na verdade. Você pode se esconder por trás de coisas como essas ou você pode deixar isso destacar quem você é. Alguns estilistas querem remodelar você, mas quando eles são bons no que fazem, eles realmente te veem. E se você colocar a roupa certa, isso realmente te ajuda a ficar orgulhosa e sentir que você tem um contexto. É como se você não estivesse mentindo.”

Isso pode ser a salvação de Maureen onde ela pode mergulhar, como Assayas disse, no visual das coisas, no momento presente, nas coisas que não são muito sobre pensar. “A base disso em ‘Personal Shopper‘ é que você tem alguém que é realmente atraída pela beleza, mas ela se odeia tanto que ela se sente culpada por isso,” diz Stewart. “Há uma qualidade vergonha em querer ser bonita e gostar de coisas bonitas. Porque ela realmente não gosta de si mesma, ela acha isso ridículo. Moda pode ser uma arte deslumbrante e não há nada errado com apreciar a beleza; é parte do que nos faz humano; é uma versão do espiritualismo. Mas é óbvio para caralho quando as pessoas estão fazendo isso por razões diferentes e ela não tem certeza onde ela se encaixa nisso.”

E onde Kristen Stewart se encaixa nisso? Provavelmente, em todo lugar. Nós a vemos no tapete vermelho em Chanel, parecendo uma nova Coppelia, suas pálpebras pretas como as de um panda; outras vezes, a vemos em fotos de paparazzi com sua namorada Alicia Cargile usando uma T-shirt simples e jeans cortados, finalmente feliz em sua própria pele. Há uma mulher em sua vida; já houve homens, notavelmente seu co-star em ‘Crepúsculo‘, Robert Pattinson. Ela não sente a necessidade de falsificar a verdade ou de definir a si mesma como uma coisa ou outra. Como uma atriz, ela diz em uma nota nas notícias das celebridades de hoje, ela cresce na ambiguidade.

É uma boa fala, empurrando a história para outro dia. Uma vez, a narrativa de Kristen Stewart pareceu destinada a terminar com um final de contos de fadas, certamente após o estilo da saga ‘Crepúsculo‘. Graças a força da sua personagem principal, agora se tornou um indie artístico no qual Stewart, ainda que com relutância, compartilha a autoria.

“Eu acho que o que define Kristen é seu senso de liberdade,” disse Assays. “Ela é uma rebelde. Ela é alguém que não quer ser colocada em uma caixa do jeito que muitos atores de Hollywood fazem. Ela segue seus instintos e isso é algo que poucos atores americanos podem fazer. Ninguém mais da sua geração, eu diria. Ela é única.”




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